RESPM JUL_AGO_SET 2017
julho/agosto/setembrode 2017| RevistadaESPM 17 shutterstock E mdezembrode1978,olíderchinêsDengXiaoping anunciouumasériede reformaseconômicasna RepúblicaPopular daChina. Dentreelas, aaber- turadopaísaosinvestidoresestrangeiroseoiní- cio da “descoletivização” da agricultura. A partir de então, váriosoutrosgovernosforamtambémreformandosuaseco- nomiaseaceitandooprimadodocapitalismoelivrecomér- cio,assimcomoaestruturaeconômicaaserseguida.Istose deunoReinoUnido em1979, nos EstadosUnidos em1982, na América Latina entre 1982 e 1990, na EuropaOcidental em1985, na União Soviética a partir de 1985 e, por último, naÍndiaem1991.GuideonRachman,emseulivro ZeroSum Future (Simon&Schuster,2010),chamaesteperíododeErada GrandeTransformação,quandooprincípiodocapitalismoe dolivrecomérciosetornaramasprincipaisformasdeorga- nização econômica no mundo. Não é à toa que a partir da décadade1990sepassouafalaremglobalizaçãodaeconomia. Contudo, a globalização não tem início nesta época. Afi- naldecontas,jánoséculo15,comoiníciodasgrandesnave- gações,produtosasiáticoseramvendidosporcomerciantes europeus em, praticamente, todos os continentes. A lógica éamesma.Oquemudou foi ovolumeeavelocidadedopro- cesso, que cresceramnamedida emque novas tecnologias foramsendodesenvolvidas. ComofimdaGuerraFria,em1991,eadissoluçãodaUnião Soviética, surge umnovo período, intitulado por Rachman deaEradaProsperidade.Entre1992e2008,aeconomiaglo- bal passoupor umperíodo de crescimento acelerado como nunca houve anteriormente, mas que não foi sem alguns solavancos, como as crises doMéxico em1994, dos Tigres Asiáticosem1997,daRússiaedoBrasilem1998,daTurquia em1999edaArgentinaem2000. Portanto, se, porumlado, osaspectoseconômicos se tor- naramosmais relevantesparaadinâmicadapolítica inter- nacional, por outro, a políticamilitar não entrou emdeclí- nio. Muito pelo contrário. Este foi um período com várias intervençõesocidentais. Alémdomais, estas intervenções sempre foramprecedidas de umdiscurso de busca de um bem comum à comunidade internacional, normalmente relacionado aos direitos humanos. Empraticamente todas essasações,oOcidentenãoencontrouresistência,umavez queaRússiapassavaporumperíododedeclínioequasecaos econômico interno e a China buscava ser aceita pelaOrga- nizaçãoMundial doComércio (OMC), nãopodendo seopor àspotênciasocidentais. Este quadro começa amudar após os atentados de 11 de setembrode2001.Emumprimeiromomento,oapoiointer- nacionalaosEstadosUnidosfoiunânime,comopresidente VladimirPutin,daRússia,sendooprimeirolíderaconversar e oferecer ajuda ao então presidente GeorgeW. Bush — fato concretizadonavotaçãounânimenoConselhodeSegurança dasNaçõesUnidas(CS-ONU)autorizandoousodaforçacon- traoTalibã, quecontrolavaamaiorpartedoAfeganistão. Contudo, em um segundo momento, a partir de 2002, quando a Casa Branca procurou acusar o ditador Saddam Hussein,doIraque,deligaçãocomaredeterroristaAlQaeda, houveumrachanaaliançaocidental.Váriosgovernoseuro- peusseopuseramaousodaforça,pordiversosmotivos,inclu- siveinteresseseconômicosnoIraque—oquenãoimpediua açãodosnorte-americanos,eelesdeseremacusadosdeuni- lateralismo.Apartirdeentão,oOcidentenãotevemaisuma posiçãohomogênea.Aomesmotempo,houveaascensãode outros países aderindo à onda liberalizante, como Brasil, Rússia,ÍndiaeChina,quereceberamoacrônimodeBRICs. Como boom dascommodities,nãoapenasesses,mastam- bémoutros governos passarama ter umaposturademaior confrontaçãoaosEstadosUnidos, comoo Irã, lideradopelo então presidenteMahmoud Ahmadinejad, e a Venezuela, comoentãopresidenteHugoChávez.Ouseja,comaascensão econômicaqueaglobalizaçãoproporcionou,estesgovernos passaramasecontraporaoquemuitosdenunciavamcomo ahegemoniaamericana. Acontestaçãoaomodeloocidentalliberal,dedemocracia ecapitalismo,maisespecificamenteomodelonorte-ameri- cano chamadode neoliberal, ganhou força a partir da crise de 2008. Naquele momento, uma quase depressão econô- mica nos Estados Unidos fez omodelo econômico chinês ganhar destaque entremuitos acadêmicos, pois este país, assimcomo outros que seguiamos mesmos princípios de grande intervenção estatal na economia, conseguiu evitar entraremrecessãoouserecuperarrapidamente.Nãoéàtoa queIanBremmer,fundadordoEurasiaGroup,jádefiniueste período como o retorno do capitalismo de Estado, no qual ogovernoutilizaaeconomiaparaseusobjetivospolíticos. Apesar dessas diferenças, conseguiu-se construir um mínimo de consenso em como evitar que a crise se espa- lhasseglobalmenteearrastassetodasaseconomias,fatoque sófoipossívelcomacoordenaçãoobtidapormeiodoG-20,as 20maiores economias domundo.Masnão semumpreçoa pagar: odequeospaíses emdesenvolvimentopassassema
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx