RESPM JUL_AGO_SET 2017

Panorama Revista da ESPM | julho/agosto/setembrode 2017 18 termaior peso nas decisões dos órgãos econômicosmulti- laterais, oFundoMonetário Internacional (FMI) e oBanco Mundial.TendoemvistaqueoOcidenteestavanecessitando doempréstimodeU$100bilhõesdessespaíses,afimdeesta- bilizar váriaseconomiaseuropeias, esteacordo foi selado. Oque se passou a ter foi não só a aceitação da estrutura econômicainternacional,criadapelosEstadosUnidosapós a SegundaGuerraMundial, baseadano capitalismo e livre comércio,comotambémadiretaparticipaçãodaspotências emascensão, nacoordenaçãodessaestrutura. Apesar disso, está claro que aOrdemInternacional pre- cisapassarporalgumasreformas,principalmentenosâmbi- tosfinanceiro, comercial, segurançaeclimático. Contudo, nãohámais umúnico país ou grupo de países que consiga imporumavisãodemundosobreosoutros.Aindamaisque, mesmo coma adoção do capitalismo, há diferentes visões sobre como organizar essa economia global, tendo como principal discordância o papel do Estado na economia. E, apesar de todos os governos se dizerem democráticos e respeitadoresdosdireitoshumanos,hádivergênciasmuito maiores sobreoqueseriacadaumdeles. ÉnestecontextoqueachegadadeDonaldTrumpaopoder nosEstadosUnidosgeramaiorinstabilidadeglobal.Onovo presidentequestionajustamentepontosqueeramconsidera- doscomoconsensoentreasliderançaspolíticasamericanas eocidentais,comoolivrecomércio,oaquecimentoglobale asegurançanasdiferentes regiõesdoplaneta. Mas, como presidente, Trump já tomou decisões que puseramemquestionamentoaliderançanorte-americana na construção de consensos e equilíbrios naOrdem Inter- nacional.Algumasaçõesjámarcaramessapostura,comoa retiradadosEstadosUnidosdaParceriaTranspacífico(TPP, nasiglaeminglês),oquestionamentodaOrganizaçãodoTra- tado doAtlânticoNorte (Otan), o estreitamento da aliança comaArábiaSaudita, oconsequenterecrudescimentodas tensõesnaregiãoe,porfim,oanúnciodaretiradaamericana doAcordodeParis sobreoclima. Seacoordenaçãoglobal ficoumaisdifícil, trêssituações já semostraramcríticas e comcapacidade para deflagrar conflitos. Aprimeiraéapenínsulacoreana, ondeoditador Kim Jong-un acelerou os programas nuclear e de mísseis nos últimos anos, ampliando a perspectiva de a Coreia do Nortepoderlançarumabombaatômicacomummíssilbalís- tico intercontinental (ICBM, na sigla eminglês) a qualquer momento.Estasituaçãoéconsideradainaceitávelpelo esta- blishment militarnorte-americano.Tendoemvistaquehoje hádois líderes irredutíveis emsuasposturas comandando os dois países, a volta de uma guerra na península parece mais real doquenunca. A segunda situação preocupante é a do OrienteMédio, palcodademonstraçãodeforçaqueopresidenterusso,Vla- dimir Putin, vem fazendo para retomar o status de grande potênciaglobal,eporduasrazões.AprimeiraéaSíria,onde ele apoia o ditador Bashar al- Assad, enquanto os Estados Unidoseseusaliadosárabesdogolfoapoiamgruposqueten- tamderrubarolídersírio.AsegundaéadoIrã,quetambém recebeapoiodaRússia,inclusivemilitar,enquantoWashin- gtonapoiaaArábiaSauditaeseusaliados. Emambos os casos, a possibilidade de uma confronta- ção entre aliados arrastar Estados Unidos e Rússia para um conflito aberto é muito grande. Há diversos casos históricos emque conflitos entre grandes potências tive- raminíciodevidoaopapel de aliadosmenores, como, por exemplo, a Primeira GuerraMundial. E este exemplo é muito importante porque, diferente- mentedoqueédito,nósnãoestamosentrandoemumanova GuerraFria.Estanãoéarealidadeporquenãohádoisblocos econômicos/ideológicos opostos como era naquela época, comumladodefendendooindividualismo,principalmente no aspecto econômico, e outro a coletividade — capitanea- dosporduassuperpotênciasquepraticamenteconseguiam imporsuasvontadessobreseusaliados.Hojeocapitalismo foi aceito como amelhor forma de organizar a economia, compouquíssimasexceções,comoCoreiadoNorteeCuba. Este quadro ficamais claro uma vez que não vivemos mais uma bipolaridade e, muitomenos, uma hegemonia norte-americana. Por isso, alguns analistas dizemque, diante deste quadro demultipolaridade, ou seja, várias grandes potências buscando se equilibrar, a perspec- tiva seria de maior estabilidade, como foi o período da chamada “a grande paz europeia”, que durou do fimdas guerras napoleônicas em 1815 até 1914. É justamente este o grande problema. Neste período, realmente, não houve grandes conflitos queameaçassemaestabilidadedaOrdemInternacional.Isto Após o atentadode 11de setembrode 2001, osEstadosUnidos receberamapoio incondicional daONUpara combater o Talibã, que controlava oAfeganistão

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