RESPM JUL_AGO_SET 2017
julho/agosto/setembrode 2017| RevistadaESPM 21 shutterstock E ncolher. Este verbo, habitualmente, não faz parte do vocabulário empresarial. Em espe- cial, envolvendo um conglomerado do tama- nho daGeneralMotors (GM). Mas a Economist , na edição de 30 de junho de 2017, foi incisiva no título “Encolher para lucrar” da reportagem que conta como a GMpretende abrirmão de sua participação no “clube dos 10milhões”. Nesse clube estão, alémdamontadora ame- ricana, a Volkswagen, a Toyota e a Renault Nissan, cada umadelas comessevolumedecarrosproduzidos em2016. Emtermosoperacionais, comocontoua revista inglesa, a GM começou a “encolher” em 2015, quando encerrou suas atividades na Rússia e na Indonésia e reduziumuito suas operações na Tailândia. Emmarço do ano seguinte, a GMavisou que estava de partida domercado europeu, coma venda daOpel para a PSAPeugeot Citroën. Até que emmaiodeste ano amontadora americana informouque nãovenderiamaiscarrosna ÍndiaenaÁfricadoSul.Opre- sidente da companhia, DanAmmann, explicou omotivo de tantas “despedidas”: a empresa não podia continuar a vender “para todas as pessoas em todos os lugares”. A Economist não ficoumuito convencida coma justifi- cativa e mostrou que, mesmo comos lucros recordes de 2015 e 2016 e as boas previsões para este ano, as ações daGMestavamestacionadas nomesmo valor de quando a empresa fez umbem-sucedido IPO em2010, depois da falência provocada pela crise financeira de setembro de 2008. Agora, a pretensão é reduzir a produção anual para 8,5 milhões de carros. O faturamento, em 2017, já será 10% menor, mas os lucros devem subir entre 2% e 3%, porque a empresa só irá atuar nas áreas em que já é forte — com presença consolidada nos Estados Unidos, na China e onde tem grande participação de mercado, como na América Latina. Em outras palavras: emnome do lucro, a GMnão pretende mais ser global. O que fez a GM desistir de querer vender para “todas as pessoas, em todos os lugares”? A resposta pode estar na percepção de que a florada da globalizaçãomurchou. Aqui, é obrigatório pensar que estamos falando damaior montadora de veículos domundo. Em torno desse recuo da GM, muita coisa pode estar em jogo. Mudança forte no sentido da industrialização, mobilidade urbana versus transporte individual, novos negócios ao redor do carro semmotorista. Tudo isso é bemreal, mas não explica por que as ações daGMnão sobem, mesmo quando os lucros aparecem, como em 2016 e 2017. Por que os investidores não se impressionaram com estes lucros? O que eles sabem ou pressentem? Este é o ponto. Arespostavai bemalémdomercadodeautomóveis, local oumundial. Na verdade, pensando de outromodo, é preciso reconhecer que, desde a recessão iniciada coma crise de setembro de 2008, os bancos centrais, em todos os cantos do mundo, tentaram animar suas economias mantendoas taxas de jurode curtoprazoemníveismuito próximosdezero.NosEstadosUnidos, apesardasameaças do Federal Reserve, o banco central americano, de subir os juros, eles permaneceramabaixode 1%ao ano, vigente até mesmo para o terceiro trimestre de 2017. Não é dife- rente o valor dos juros na União Europeia. Ou no Japão, que, inclusive, pratica juros negativos. O medo da “estagnação secular” Oque significa juros tão baixos?Dez anos depois da bru- tal crise econômica de setembro de 2008, não é possível subir os jurosnos países ricos porque suas economiasnão “se aqueceram”, quer dizer não se voltou, por exemplo, a vender bastante, coma inflação subindo e exigindo subir juros para esfriar as expectativas econômicas. O pior é que nemmesmo os juros de longo prazo subiram. Aliás, caíram. Quem comprou títulos do Tesouro do governo americano de dez anos (porque são o máximo de segu- rança disponível) recebeu em 2009 a oferta de 3,5% de juros anuais. Ao longodo tempo, esse juro foi diminuindo. Desde o ano passado, quem compra esses mesmos títu- los do Tesouro recebe 2% de juros ao ano. Robert J. Shiller, PrêmioNobel deEconomiade2013, fez uma interessante observação sobre omotivo de resulta- dos tão insatisfatórios a todos os estímulos que os bancos centrais domundo inteiro fizeram, desde 2008, para que as economias deslanchassem. Se investidores estão dis- postos a imobilizar seu dinheiro no Tesouro americano a taxas tão baixas, é porque não compensa arriscá-lo em algumoutro negócio. Emoutras palavras, comesse espí- rito a economia dos países ricos fica parada. Emartigo de grande repercussão, Shiller sugeriu que existe uma longa tendência “rumo ao pessimismo”, refletido na populari- dade do termo “estagnação secular”, para descrever uma economia permanentemente fraca. A expressão “estagnação secular” foi usada pelo ex- secretário do Tesouro norte-americano Lawrence Sum- mers em reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI), em novembro de 2013. O colunista do The New
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