RESPM JUL_AGO_SET 2017
Tendência Revista da ESPM | julho/agosto/setembrode 2017 22 York Times e Prêmio Nobel de Economia de 2015 Paul Krugman adotou o termo, que ganhou uso constante. A rigor, a expressão foi criada pelo economista de Har- vard, Alvin Hansen, em dezembro de 1938, com signi- ficado bem preciso: “recuperações doentias que mor- rem em sua infância e depressões que se alimentam a si mesmas e deixamumnúcleo de desemprego aparen- temente imutável”. A atualidade da definição de Hansen sobre “estag- nação secular” é significativa. Afinal, a Depressão que começara em 1929 não se resolveria dez anos depois. Diferentes economistas insistem em que a estagnação secular se impõe, hoje, pelapermanênciadeexpectativas negativas. Exemplo: a crise de 2008 continua emnossas mentes pelo receio de que fatos econômicos ruins sejam iminentes apesar dasmedidas de incentivo ao consumo do governo. Em seu artigo, Shiller discorda e diz que a estagnação atual, longa de dez anos, é diferente da dos anos de 1930 e está baseada na angústia pelos rápidos avanços na tecnologia, que poderão substituir muitos empregos, alimentando enorme desigualdade econô- mica. E conclui: pessoas estão relutantes em gastar porque estão temerosas de sua empregabilidade. Você encontra a íntegra do artigo de Shiller no seguinte ende- reço: https://goo.gl/HJVQYd . Por que o comércio desacelerou tanto? Diante desse panorama, uma pergunta precisa ser feita: com a globalização, como a de hoje, o mundo não teria melhores condições de enfrentar a “estagnação” ini- ciada na crise de 2008? É preciso reconhecer nessa res- posta, primeiro, que os fluxos transnacionais de capi- tal, típicos da globalização, diminuírammuito, quando os grandes bancos globais “fecharam as torneiras” dos empréstimos entre nações pressionados pelas novas regras de regulamentação dessas transferências, tanto norte-americanas como europeias. Especial- mente depois da aceleração da crise grega em 2009. Com o recuo dos financiamentos internacionais, o comércio mundial foi duramente atingido. É bem conhecido o dado de que de 1990 a 2007 o comércio no mundo avançou em uma velocidade duas vezes maior que o crescimento do PIB. Isto quer dizer: nos anos em que o PIBmundial cresceu, digamos 3%, o comércio glo- bal nesse período avançou 6%. Foi essa velocidade que provocou a saída de mais de um bilhão de pessoas da linha de pobreza absoluta, emmenos de 20 anos, prin- cipalmente na Ásia, África e América Latina. Esta foi a maior conquista deste período de globalização. E essa conquista foi, indiscutivelmente, produto do avanço do comércio mundial. Do consumo de commodities até a construção de impressionantes cadeias globais de produção. Porém, desde 2010, como provam os dados do Banco Mundial, a troca de mercadorias e serviços entre os países despencou. Por quê? O artigo de Laura Tyson, professora de Berkeley, e Susan Lund, diretora de pesquisa do McKinsey Global Institute, discutiu as razões desse recuo do comércio mundial destacando três pontos: primeiro, a queda nos investimentos globais e nos fluxos de financiamento; depois, a perda de impulso no crescimento da China — até 2010, o PIB chinês avançava, desde meados dos anos de 1990, emmédia 13% ao ano, e nesta década caiu a menos de 7% anuais. Por último, as autoras mostram que as cadeias globais de suprimento alcançaram o limite da eficiência. O grave foi o resumo conclusivo do artigo: tudo indica que a desaceleração do comér- cio mundial será o “novo normal” nos próximos anos. O texto de Tyson e Lund não responsabiliza a globali- zação pelo recuo no comércio. Bemao contrário. Acom- panhando a opinião de Shiller, as autoras tambémapon- tamque a queda nas trocas mundiais temmais relação com a mudança tecnológica, que automatiza as tarefas manuais e cognitivas rotineiras, ao mesmo tempo que aumenta a demanda por trabalho altamente qualificado. Nesse sentido, notamas autoras, a automação concentra renda. Desde que a automação avançou, a classemédia, mesmo das economias mais avançadas, não registrou mais qualquer aumento de renda. Neste ponto aparecem o temor e a revolta dos eleito- res contra o trabalho imigrante e as fronteiras comer- ciais abertas típicas da globalização. Os eleitores que se aproximam de plataformas políticas para pedir um Comas plataformas digitais, um empreendedor demínimoporte agora se conecta comcliente e fornecedor emtodo omundo. São os “micromultinacionais”
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