RESPM JUL_AGO_SET 2017

julho/agosto/setembrode 2017| RevistadaESPM 23 protecionismocomercial extremado, comoasdogoverno Trump ou dos adeptos do Brexit (a saída da Inglaterra da União Europeia), reagema essa perda de renda atacando o que se consegue ver: amercadoria e a prestação de ser- viço “estrangeiras”. Semquerer (ou poder) entender que amudança tecnológica nas estruturas de produção—que tanto os assustam— é inexorável. A globalização mudou: chegaram as “micromultinacionais” Omais curioso, como aponta Tyson e Lund, é que nada disso, a desaceleração do comérciomundial ou a reação dos eleitores, quer dizer que a globalização esteja recu- ando. Ela apenasmudoude forma. Bingo! Cada vezmais, a globalização está se tornando umfenômenomais digi- tal. Essa percepção do artigo é básica: até 2012, os fluxos digitais interfronteiras praticamente não existiam. Hoje eles têmimpacto bemmaior sobre o crescimento da eco- nomiamundial do que o volume tradicional de produtos negociados. A íntegra desse artigo de Tyson e Lund está disponível no link: https://goo.gl/92aq6B . A nova forma de globalização — um “fenômeno mais digital” − opera emtermos de circulação de dados, e não de capital ou trabalho. Issoassusta a forma tradicional de pensar negócios. O interesse émuitomaior emaumen- tar a velocidade das bandas largas do que emacelerar as rotasmarítimas. Plataformas digitais que empreendem em custos mínimos se conectam com clientes e forne- cedores do mundo inteiro. O fabricante de uma placa eletrônica no interior do Canadá usa o Alibaba para comprar peças de fornecedor chinês. Prestação de ser- viço tem sentido global. Hoje é possível fazer um curso de Harvard (e pagar o possível por ele, porque a escala é mundial) sem sair de casa no interior do Quênia. Plataformasdigitais transformarama ideiadeemprego. Demodo absoluto. Umempreendedor demínimo porte se conecta comcliente e fornecedor emqualquer canto domundo. Essa possibilidade de conexão os transforma em“micromultinacionais”. A expressão foi cunhada por Tyson e Lund. Não é só no Uber que a ideia de emprego se transformou emuma “plataforma de negócio”. E sem- pre pela lógica digital será uma plataforma de negócio global. Convémnunca esquecer disso! Para entender melhor essa mudança é preciso reco- nhecer que o Facebook acredita contar com50milhões de pequenas empresas, hoje, emsua plataforma. Omais impressionante éque em2013eram“apenas” poucomais de20milhõesdepequenosnegóciosnomundoFacebook. Quandoseobservaonovoformatodaglobalizaçãocomo fenômenodigital, épossível perceber queaGM“entendeu o recado”. A humanidade desenvolveu um outro jeito de “pensar osnegócios”.Não foi apenasaatividade industrial quemudou.Alógicadaglobalizaçãopassouparaumaoutra fase. AGM, como outras empresas globais, percebeu que chegou a hora de “se reinventar”. Se para essa reinvenção for preciso “encolher”, para “pensar osnegócios” emoutro formato, a decisãonão é apenas inevitável. É sensata. Na história das espécies só sobrevive quemse adapta. Inclu- sive, ou principalmente, quando as mudanças globais mudamde fase. Como sempre aconteceu. Leonardo Trevisan Professor da ESPM e da PUC-São Paulo e jornalista especializado em economia, política governamental e externa e internacionalização do mercado de trabalho shutterstock Ofabricantedeumaplacaeletrônica, no interior doCanadá, usaoAlibabaparacomprar componentesde fornecedor chinês. Prestaçãodeserviço temsentidoglobal

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