RESPM JUL_AGO_SET 2017
entrevista | Rubens Barbosa Revista da ESPM | julho/agosto/setembrode 2017 48 Revista da ESPM — Como presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), quais são suas preocupações atuais? Rubens Barbosa — Nós criamos o Irice no começo do ano passado, então é umprojeto novo. Estamos trabalhan- do na realização de seminários e en- contros. Mas, nestemomento, omaior desafio é estruturar o instituto, uma vez que com essa crise toda estamos encontrando dificuldades para con- seguir patrocínios e associados. Esta- mos hoje numa campanha para atrair sócios. Nós transformamos a revista Interesse Nacional em uma Organiza- ção da Sociedade Civil de Interesse Público [Oscip] que nos permite uma série de incentivos fiscais para atrair apoiadores. Em 2016, nós tivemos seis ou sete encontros importantes, de comércio exterior. Este ano já temos oito encontros confirmados e projetos desenvolvidos em parceria com a Casa do Saber, a Fundação Armando Alvares Penteado [Faap], o Banco Mundial e o governo do Estado de São Paulo. O instituto pauta suas ações em relações internacionais, política ex- terna, defesa, meio ambiente, energia e direitos humanos. Quando tivermos uma estruturamaior, nossa intenção é produzir papers para empresas e orga- nizações sobre temas internacionais. Revista da ESPM — Uma série de reviravoltas políticas e econômicas in- tensificou o debate em torno da chama- da pós-globalização e seus efeitos no comércio exterior e nas relações entre blocos econômicos. Na superfície estão temas mais midiáticos, como a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos e o Brexit. Que outros fatores o senhor desta- caria hoje como retrocessos preocupantes para a globalização? Barbosa —Eu não vejo esse cenário de pós-globalização ou “desglobalização”, como muitos têm apontado. A globali- zação está aí para ficar. A interdepen- dência que veio dos setores financeiro e comercial está posta. Dentro dessa tendência há altos e baixos, avanços e recuos. E com toda essa digitalização da economia, o comércio ganha uma força cada vez maior na globaliza- ção. Estamos passando por ajustes naturais que afetam todo o mundo, a emergência da China, a Indústria 4.0, que vão sofisticando o conceito de globalização. Ao mesmo tempo, está seproduzindoparalelamenteuma ten- dência de regionalização. Na Europa, naAméricadoNorte enaÁsia,mesmo com a saída dos Estados Unidos do Acordo de Parceria Transpacífico de Cooperação Econômica [TPP], está ha- vendo uma grande integração. A Ásia passa por um enorme dinamismo e vejocomoummovimentoquenão tem volta. Quemnão se ajustar a isso ficará marginalizado, que é o caso do Brasil e doMercosul nesses últimos 15 anos. Revista da ESPM — O senhor comen- tou sobre a TPP e justamente a retração dos Estados Unidos abriu uma nova negociação importante do Japão com a União Europeia (UE). Qual é a sua ava- liação a respeito dessemovimento? Barbosa — Essa é a prova de que a glo- balização não parou. As coisas estão avançando. AUniãoEuropeia eo Japão estão negociando esse acordo faz muito tempo. Já que os Estados Unidos decidiramficar de fora, isso acelerou a aproximaçãode europeus e japoneses. Revista da ESPM — Qual é o impacto prático dessa nova visão da Casa Branca em relação ao comércio global? Barbosa — Você pontuou bem: isso é o presidente Donald Trump na Casa Branca. Conforme o mandato dele for avançando, ele vai acabar voltando às políticas tradicionais norte-america- nas. Recentemente, ele voltou a falar da importância da Otan na Polônia, assim como fez restrições, mas não renunciou definitivamente, ao Acordo [do clima] de Paris. Trump vem man- tendo uma retórica muito forte em re- lação à Coreia do Norte, mas a chance de um ataque americano é remota. A menos que surja alguma coisa muito forte, eles vão manter o jogo que sem- premantiveramatravés da China. Até agora, a únicamudançamais concreta foi a retirada da TPP, já que no Nafta ele também voltou atrás. Trump está aplicando medidas restritivas ao aço e às placas solares da China, mas são ações pontuais. Revista da ESPM — Há um risco de essa situação se agravar? Barbosa — Essa situação de conflito pode levar a China a pressionar os EstadosUnidos emreconhecê-la como Mesmo coma saídadosEstadosUnidos doAcordo deParceriaTranspacíficodeCooperaçãoEconômica [TPP], naEuropa, naAméricadoNorte e naÁsia estáhavendouma grande integração
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