RESPM JUL_AGO_SET 2017
julho/agosto/setembrode 2017| RevistadaESPM 49 economia demercado na Organização Mundial do Comércio (OMC) e forçar uma situação que poderia levar os Estados Unidos a abandonar a OMC. As coisas que Trump vem fazendo estão dentro do que ele prometeu na campanha. O estilo é meio imprevi- sível e vai continuar assim. O país está dividido e, enquanto metade continuar apoiando-o, ele seguirá com essa postura protecionista, mas há um limite para o que possa ser feito em uma economia tão complexa quanto a americana. Vale lembrar que a China é omaior parceiro comercial americano e, embora exista um grande deficit, o governo não tem como parar as im- portações, pois isso geraria um nível de insatisfação muito grande dentro dos Estados Unidos. Tudo isso deve ser encarado de um ponto de vista menos político e mais realista. Há uma visão negativa que precisamos relativizar. Revista da ESPM — Em um artigo recente, o senhor qualificou a eleição de Emmanuel Macron como uma revo- lução francesa pelo voto. De fato, ele já sinalizou com reformas na política, na economia e no trabalho que pareciam impensáveis nos últimos 30 anos. A França será capaz de reverter o movi- mento antiglobalização que se espalha pela União Europeia? Barbosa — Macron encarnou o senti- mento de renovação dentro da França. O país foi governado muito tempo pelos socialistas, com uma série de medidas de estatização que foram contra essa maré da globalização e deixarama Françamenos competitiva e mais distante da Alemanha. Macron estava sintonizado com parte do mo- vimento civil que desejava ajustar a França a essa nova realidade. Ele foi muito franco na campanha e propôs mudanças que não são pequenas. A agenda da França é a mesma que a do Brasil: reforma tributária, reforma tra- balhista e reforma do Estado. Tudo o que queremos fazer aqui eles também querem lá. Macron conseguiu eleger 65% da Assembleia Nacional sem um partido formal. Ele tem ummovimen- to que se propôs a falar a verdade para a população e com isso conseguiu se eleger. Esse resultado na França pre- cisa ser visto com atenção pelo Brasil: está faltando um Macron para nós. Alguém que consiga falar claramente sobre os problemas para a população e mostrar que, se não fizermos essas reformas modernizantes, o Brasil terá um caminho assegurado para se con- verter naGrécia, umpaís falido. Revista da ESPM — Ainda estamos distantes daGrécia, ou não? Barbosa — Hoje nós já temos uma Grécia instalada aqui, que é o Rio de Janeiro. De todas as reformas, a mais urgente é a da previdência porque, na minha visão, se nós não fizermos nada, em cinco anos chegaremos à mesma situação da Grécia. O cresci- mentodo gasto coma previdência, que já corresponde a13%doPIB, vai chegar a um ponto que não teremos mais capacidade de investimento. Todo o dinheiro que entrar para o Estado irá para a previdência. Quem critica essa realidade são as pessoas que se recu- sam objetivamente a ver os dados da previdência. É só fazer a projeção para ver queestamosnuma situação impos- sível. OMacron temtanta ousadia que, num discurso de reformas na Assem- bleia Nacional, propôs a redução de um terço do Parlamento e do Senado. Imagine aqui, no Brasil, um candidato encampar essa proposta? É muito provável que fosse eleito. O problema é o que teria de fazer para conseguir cumprir a promessa depois. Revista da ESPM — Do outro lado do canal, o que podemos esperar da Inglaterra pós-Brexit? Embora tenha se shutterstock AagendadaFrança, deEmmanuelMacron, éamesmadoBrasil: reforma tributária, reforma trabalhistae reformadoEstado
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx