RESPM JUL_AGO_SET 2017

entrevista | Rubens Barbosa Revista da ESPM | julho/agosto/setembrode 2017 50 afastado da Europa, é difícil imaginar o país como uma potência isolada, con- siderando suas estreitas relações com a Ásia e os Estados Unidos. Barbosa — A Inglaterra vai ter um pa- pel menor fora da União Europeia. Foi um erro político. O primeiro-ministro DavidCameron convocou umplebisci- to achando que ia vencer, mas perdeu. Já a primeira-ministra Theresa May convocou uma reunião de cúpula para se fortalecer, e acabou se enfraquecen- do. Tanto nos Estados Unidos quanto na França e na Inglaterra surgiu um movimento muito forte antiestablish- ment , que não foi percebido antes das eleições. O Reino Unido vai sair muito diminuído dessa mudança. Primeiro, é possível que a Escócia possa pedir a separação da Inglaterra. A City tam- bémserámuito prejudicada, porque as empresas poderão conseguir muitas vantagens e eles terão de reduzir uma quantidade considerável de impostos para se manter competitivos em rela- ção a Paris e Frankfurt. Revista da ESPM — A separação em si é algo inédito emuito complexo. Barbosa — É muito improvável que esse desengajamento não ocorra em dois anos. São 27 acordos comerciais no âmbito da União Europeia e os outros 50 e tantos acordos com outros países que eles terão de negociar em uma posição pouco vantajosa. Porque os ingleses queremomelhor dos mun- dos: as mesmas condições comerciais comos países europeus semas obriga- ções, que são o livre trânsito de pesso- as e a contribuição anual para a União. Só que agora eles terão de negociar da maneira comoBruxelas quiser, porque a Inglaterra já abriu todas as cartas que tinha na mão. E passará a negociar dentro da OMC, o que vai ter impacto no comércio exterior. Revista da ESPM — Como o senhor tem visto o papel da OMC e o trabalho do brasileiro Roberto Azevedo à frente da organização? Barbosa — A OMC perdeu substância nos últimos anos. O Roberto chegou lá numa situação muito difícil, para tentar salvar a Rodada Doha [de aber- tura comercial global], o que não foi possível. Os países passaram a jogar para fora da OMC todas as negocia- ções de blocos, como a TPP. O pilar da negociação comercial terminou. Os países desenvolvidos não querem negociar pela OMC, porque lá a regra é o consenso. E como pode haver con- senso quando você tem Venezuela, Cuba e Bolívia, que não permitem consenso? Então, esses acordos fo- ram feitos fora da organização. Já o outro pilar da OMC, que é a mediação de controvérsias, deve ser mantido. Se, por um lado, o fim das negocia- ções comerciais é ruim para países como o Brasil, o papel da OMC como mediadora de controvérsias é bom para países de porte médio, do ponto de vista comercial, como o nosso. Infelizmente, há também uma série de acordos parciais de facilitação de comércio, para o mercado de tecnolo- gia, normas de meio ambiente, entre outros, que estão sendo feitos fora do âmbito daOMC. Por isso, acredito que a organização não vai mais se recu- perar e ter uma posição importante como no passado. Revista da ESPM — O senhor é um observador próximo do Mercosul e após a eleição argentina houve um certo de- gelo nas relações do país com o Brasil. Podemos acreditar no fortalecimento real do bloco nos próximos anos ou ainda é muito cedo para avaliar o sucesso das iniciativas de reabertura econômica dos governos de ambos os países? shutterstock Senão fizermosessas reformasmodernizantes, oBrasil terácaminhoassegurado paraseconverter naGrécia, umpaís falido

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