RESPM JUL_AGO_SET 2017

entrevista | Rubens Barbosa Revista da ESPM | julho/agosto/setembrode 2017 52 Barbosa — A gestão do José Serra e a do Aloysio Nunes agora têm sido muito boas. Primeiro, porque elimi- naram a influência ideológica dentro da política externa. Segundo, resta- beleceram o prestígio do Itamaraty. A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos [Aladi] voltoupara lá. Econseguiramrecursos para o Itamaraty voltar a funcionar. Só isso já deixa um saldo positivo da gestão externa no período Temer. Mas não é o suficiente. Há toda uma agenda a ser preenchida. Depois que a Dilma Rousseff saiu, até agora foi tudo feito para apagar incêndio. Não tinha dinheiro para pagar salário, aluguel, fora todo o componente ideológico que nos deixou nessa situação complicada com a Venezuela. Houve um avanço importante em termos institucionais. Emrelação à política, foi feito o que era possível. Conseguimos restabelecer o diálogo com as nações desenvolvi- das, sem romper com os países em desenvolvimento, e abrir uma agenda positiva no Mercosul. Além disso, tem uma questão importante que a opinião pública não levoumuito emconta, que foi a aproximação, ainda com o Serra, ao ministro [Raul] Jungmann, criando uma relação entre política exterior e Defesa. Isso é um grande avanço. Há problemas muito grandes de política externa que têm relação coma Defesa. Missões de paz, controle na exporta- ção de armas e a própria proteção das fronteiras, que são de competência da Defesa. Muita coisa positiva foi feita, mas temmuito ainda pela frente, sobretudo na reforma de métodos e procedimentos dentrodo Itamaraty. Revista da ESPM — O senhor tem falado sobre a importância em retomar- mos a discussão sobre política industrial. Exportações e manufaturados: quais são as chances do Brasil nos próximos anos? Barbosa —Oprincipal problemanessa área é a perda da competitividade pelo custo Brasil. Essas reformas, que estão sendo discutidas também na França, têm como um dos grandes objetivos a redução do custo interno da produção. Para pensarmos emuma nova política industrial, primeiro precisamos consi- derar que aquela que estava em curso nos últimos 50 anos se esgotou. Não por uma questão ideológica, mas por- que o Estado brasileiro quebrou. Não temdinheiromaisparadar incentivoe crédito subsidiado. Segundo porque a política industrial está sendo questio- nada emórgãos como aOMC, emduas áreas importantes: a indústria auto- motriz e a de tecnologia. Nós teremos que mudar isso, senão virá retaliação. E, terceiro, a globalização está levan- do a esses mega-acordos regionais fora da OMC e muitos deles estão em contradição com o sistema jurídico brasileiro. Esses três fatores indicam o esgotamento da política industrial comonós a concebemos até aqui. Revista da ESPM — É uma agenda imensa de reformas. Barbosa — O setor privado também tem o papel de discutir sobre o que propor no lugar. Não levando emconta o que está acontecendo no Brasil, mas emtodo omundo. Burocracia, redução de impostos, reformas trabalhista, tributária e da previdência, facilitação de comércio, infraestrutura: isso tudo é a agenda para os próximos anos para tentar impedir que a indústria continue a se deteriorar. Nas décadas de 1980 e 1990, a indústria represen- tava 25% do PIB, mas hoje é apenas 9%. E se não fizermos nada, ela vai desaparecer. Isso gera desemprego, e o Brasil tem uma vocação industrial grande. Mas precisamos nos ajustar às novas práticas e tecnologias. Não dá mais para tomarmos medidas que só existem no Brasil. Temos que tornar o Brasil umpaís normal denovo. Revista da ESPM — Que oportuni- dades e temas importantes de política externa estão expostos sobre a mesa que o Brasil precisa aproveitar? Barbosa — Bom, primeiro precisamos voltar a ter uma política externa, com um objetivo principal. Parafraseando Trump: “situar o Brasil em primeiro lugar”. Pensar o Brasil como um líder regional. Somosmembros dos BRICs e tanto a Índia, China e Rússia são líde- res regionais. Nós, não. Então, primei- ro, nós precisamos restabelecer essa relação e focar em nossas prioridades: amodernização do país emgeral e, pa- ralelamente, da nossa indústria. Para isso, nós precisamos nos aproximar de quem tem tecnologia. Não adianta se aproximar de um pequeno país da África, que só pode nos oferecer um mercado para exportar soja. Eu de- fendo maior integração regional, uma reaproximação dos países desenvolvi- OBrasil deveria estudar uma formade fortalecer o comércio e buscar nichos na região emque pudéssemos criar cadeias de produção global, que é uma tendênciamodernada globalização

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx