RESPM JUL_AGO_SET 2017
julho/agosto/setembrode 2017| RevistadaESPM 53 dos e, paralelamente, a busca de novos mercados em desenvolvimento para ampliar nossas relações comerciais. Precisamos de uma política séria com a China. Quando a China propôs que o Brasil fosse um parceiro estratégico, eles sabiam bem o que queriam, mas nós entramos nessa de “gaiatos” do ponto de vista estratégico. Nós preci- samos saber oquequeremos daChina. Revista da ESPM — Os BRICs perde- ram força ou fomos nós apenas? Barbosa — Dentro dessa redefinição global, nós precisamos saber o que queremos dos BRICs. Eu sou dos pou- cos aqui no Brasil que acha que os BRICs são um fator positivo para nós e que, amédio e longo prazos, terão uma influência global muito grande. A Rús- sia está comproblemas econômicos, o Brasil também. A China começa a ter problemasfinanceiros à vista. Quando esses países se acertarem, o tamanho deles para omercado global serámuito grande. Hoje, os BRICs já têm papel de coordenação no G20, na ONU, no Ban- co Mundial, e isso vai aumentar. No fundo, o Brasil tem que decidir o que quer ser. O que quer da relação com os Estados Unidos, da China, da Rússia, da América do Sul. Nós não sabemos o que queremos e há uma série de expli- cações abstratas para isso. Eu espero que apartir daspróximas eleições esse tema volte a ser discutido. Revista da ESPM — A crise política na Venezuela aponta cada vez mais para o risco de um banho de sangue sem pre- cedentes. Que papel cabe ao Brasil para evitar que isso aconteça? Barbosa — Eu estou escrevendo sobre a Venezuela há vários anos. E sempre reiterei que nós não devemos nos esquivar desse problema. Durante os governos Lula e Dilma, eles apoiaram tudo o que o chavismo fez, de maneira acrítica. Em troca de alguma vanta- gem comercial. Isso foi um equívoco muito grande. O Brasil, no início da crise ainda com o presidente Hugo Chávez, criou um grupo de amigos para mediar a situação. Mas agora a crise é tão grande que não temos como não nos envolver. Se por acaso ocorrer o cenário que você descreveu — e eu espero que possa ser evitado —, nós seremos diretamente afetados por um grupo de refugiados para o qual não estamos preparados. É um problema humanitário, que tem um custo enorme para nós. O Brasil está conversandoagora comas autoridades para ver como ajudar. Embora eles não tenhammais embaixador aqui, o nos- so embaixador Ruy Pereira voltou para lá. Emesmo comas críticas que eles fi- zeram ao Brasil na OEA, nós temos de pôr em perspectiva que esse problema internacional afeta o Brasil. Por isso, precisamos nos unir a outros países, apresentar umplano para a Venezuela e demonstrar que não há outra opção a não ser negociar. Revista da ESPM — Que plano seria viável a essa altura na Venezuela? Barbosa — Nessa negociação nós precisamos prever alguma anistia, como se propôs para os militares, porque o presidente Nicolás Maduro e os militares não vão querer negociar se souberem que vão acabar na cadeia ou no paredão. Então, é preciso propor uma saída para eles negociada com a oposição, propondouma reconciliação nacional. E aí, com eleições livres, qualquer umque vença terá de colocar uma pedra sobre tudo o que está acon- tecendo. É muito difícil, mas não vejo outra solução. E o Brasil, pelo que eu entendo, está começando a trabalhar nessa direção. O nosso embaixador está lá em contato com as autoridades na tentativa de encontrar umcaminho para anegociação coma oposição. shutterstock OBrasil precisa se unir a outros países, apresentar umplano para a Venezuela e demonstrar que nãohá outra opção anão ser negociar
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