RESPM JUL_AGO_SET 2017
julho/agosto/setembrode 2017| RevistadaESPM 55 shutterstock O mundo passa por ummomento de grande turbulência e incer- tezas políticas, emque, apesar do aumento do número de paí- ses democráticos desde o fim da Guerra Fria, se ampliam as fragilidades institucionais, como aponta o trabalho deMichael Coppedge, professor de ciência política da Universidade de Notre Dame, no site do V-Dem — Varieties of Democracy, projeto que reúne mais de 50 estudiosos em todo o mundo para discutir o conceito e medir a democra- cia. Com base nesses estudos, países como Tailândia, Turquia, Polônia, Tunísia, Sri Lanka, Geórgia e Brasil vivem instabilidades políticas e, em alguns casos, com rompimento da ordem democrática representativa e a implementação de regimes autoritários. Comodeclíniodopoder norte-americanoe amaior influênciadepotências globais, comoChinaeRússia, as transformaçõesgeopolíticascontribuempara as crises e incertezas globais. ARússia, por exemplo, temsido acusada douso de hackers e divulgação de informações falsas para interferir em processos eleitorais em outros países e de financiar partidos europeus eurocéticos e, assim, fragilizar a confiançanas instituições europeias. Alémda anexaçãoda Crimeia e de parte do território daGeórgia, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, atuanoLesteEuropeupara diminuir opesodas forças políticas favorá- veis à aproximação coma União Europeia. Tal movimento é descrito por Cal Gershman no artigo Democracy and democracies in crisis , publicado em2016, no site do World Affairs Journal . Além da dimensão geopolítica que altera a ordem internacional, tem- se também a crise dos valores democráticos e da descrença nas institui- ções políticas. Desde a crise financeira de 2008, que resultou na estag- nação econômica e no aumento da desigualdade nos países, o discurso populista ganha peso eleitoral em diversos países. O populismo não é um fenômeno novo. No entanto, após a vitória de Donald Trump, passou-se a questionar o quanto as suas políticas e visões de mundo alteram os pilares presentes na ordem internacional, desde o fim da Segunda Guerra Mundial. O mundo, na visão do trumpismo, baseia-se na lógica do uso da força e do poder, do “nós” contra os “outros”, na defesa das fronteiras nacionais e na competição com o intuito de garantir sempre maiores ganhos para seu país. As políticas domésticas e internacionais de Trump buscam reverter os efeitos da globalização, que diminuíram a capacidade do Estado em executar políticas econômi- cas capazes de beneficiar a população e garantir maior segurança contra as ameaças externas. As previsões de que 2017 seria o ano do populismo não se concretizaram com os resultados eleitorais na Holanda, na França e no Reino Unido. Os eleitores, porém, indicaram a sua insatisfação com as fórmulas partidá- rias tradicionais e que, apesar das resistências ao discurso populista, ainda representam uma opção que avança eleitoralmente. Dessa forma, é impor- tante entender este fenômeno político e suas implicações para o futuro da democracia liberal. shutterstock
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