RESPM JUL_AGO_SET 2017

Posicionamento Revista da ESPM | julho/agosto/setembrode 2017 68 ameaça — sempre latente na psique social − é uma quase obsessãodaelitegovernamental —edapopulação.O White Paper ,documentoquetraçaasdiretrizesanuaisdogoverno central, dedica vários capítulos à questão. Como equacio- ná-la é prioridade das políticas interna e externa dopaís. Tema conexo, surge a necessidade de sanar o desequi- líbrio demográfico causado pela política de “um só filho por família”, que criou umvácuo entre as gerações, pena- lizando sobretudo a mais jovem, que terá de arcar com o ônusdeprover suporteeconômicoparaosmaisvelhos, em termos de assistência social e previdenciária, sobretudo. Foi, aliás, paraamenizar esteproblemaqueogovernocen- tralmodificoua legislaçãovigente, permitindo, apartir do ano passado, que as famílias possam ter até dois filhos. As reformaseconômicasdeDengXiaoping, que tiveram inícioem1978,mudaramdefinitivamenteoperfil dopaís. A China afluente, de 2017, é indiscutivelmente fruto das políticasqueeledelineou. Entretanto, elasderamimpulso, comosubprodutoperverso, aumacrescentedesigualdade social. DeacordocomoAsianDevelopmentBankInstitute, “antes das políticas de reformas e de open door , de 1978, o nível de renda da sociedade chinesa se caracterizava por igualdade emtodos os aspectos”. Naquele período, o coe- ficiente Gini, que mede as desigualdades entre as áreas urbanae rural, eradeapenas0,16. Jáem2012, ocoeficiente passou para 0,474 (alguns analistas afirmavamser ainda maior). Estudos estimam que o índice Gini aumentou de 0,30 para 0,55 entre 1980 e 2012. Opaís, que antes se defi- nia comouma sociedade igualitária, registra hoje omaior númerode bilionários doplaneta. Acrescente decalagem entre as classes sociais eo combate à corrupçãoque alicia as elites − político-administrativas, principalmente — tor- nou-se uma quase obsessão para o presidente Xi. Fruto do contatomais estreito como contexto interna- cional, a sociedade civil chinesaestá se tornandocadavez maisconscientedasrestriçõesdeliberdadequesofre.Logo, estáse tornandocadavezmaisassertivanadefesadosseus direitos, particularmentenadefesada liberdadedeexpres- são,noquetemsidoapoiadapelacomunidadeinternacional. Por ora, o “moto” que “justifica” a recusa do governo cen- tral emdiscutir a questão temsido o “consentimento pelo desempenho” ( consent by performance ), releituradoprincí- piomilenardoMandatodoCéu,defundoconfucionista.As autoridadespressentem, porém, quevêmsendocrescente- mentepressionadaspela “vozdas ruas” e, nãohabituadasa essasituação, têmreagidocomsevera repressão. Aquestão que secolocaparaelas é: estariamperdendooMandatodo Céu e, com isso, a delegação pela sociedade do direito de governar à suamaneira? Finalmente, vale mencionar o processo de urbani- zação, fator igualmente preocupante para o governo central, uma vez que as cidades não estão preparadas para absorver contingente tão grande dos migrantes que deixam suas localidades na zona rural em busca de trabalhomais bem remunerado nos grandes centros urbanos. A persistir este processo, em 2030, 221 cida- des chinesas terão população superior a ummilhão de habitantes. Em contrapartida, serão apenas 35 as cida- des europeias em igual situação. Muitas questões permanecem, portanto, pendentes de resposta para que a China logre o espaço que aspira na cena internacional: é possível transformar o processo de urbanização emmotor para umamelhor qualidade de crescimento econômico? É possível torná-lo inclusivo e fator de agregação social, e não de antagonismo entre as classes? Como é que o país gerenciará o crescente dis- tanciamento entre elas? Como equacionar o processo de urbanização com a preservação do meio ambiente e propiciar um melhor aproveitamento dos recursos naturais? Como será tratada a questão da segurança ali- mentar? Como lidarão as autoridades coma questão dos direitos humanos? EstessãoalgunsdosenormesdesafiosqueaChinaenfrenta paraconcretizaro ChinaDream e referendar suapretensão à liderança mundial. Apesar disso, fatos, dados e muitos analistas apontam para a irreversibilidade do processo e a conclusãode que o século 21 será o séculodoPacífico. Cabe ao leitor avaliar... E nós? Como lidará o mundo — e nós aqui — com este desafio, que é do tamanho da China? Como aproveitar a “janela de oportunidades” que se está abrindo no cenário polí- tico e econômico internacional? Em1990, aChina respondiapor 1,6% das exportações globais; hoje, representa 11,6% , sendo considerada aprimeira potênciamundial empoder de compra

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx