RESPM JUL_AGO_SET 2017
julho/agosto/setembrode 2017| RevistadaESPM 71 shutterstock N a Índia, cerca de 18 milhões de pessoas ingressam no mercado de trabalho a cada ano. Criar empregos formais e de qualidade para a crescente população jovem indiana é tarefa complexa, que impacta asmais diversas decisões econômicas no país. Apesar do elevado ritmo de cresci- mento indiano, odinamismoeconômicodosúltimosanos gerou efeitos limitados nomercado de trabalho: 30% dos jovens indianos (de 15 a 29 anos) não estão empregados, estudando ou recebendo algumtipo de treinamento. São mais de 100milhões de pessoas. Odebate sobre a globali- zação e as opções de inserção da Índia na economia glo- bal leva em consideração números na casa dos milhões e a necessidade de promover crescimento econômico em ritmo acelerado e empregos. Ciente da necessidade de gerar negócios e postos de trabalho, o governodoprimeiro-ministroNarendraModi atribuiu prioridade à atração de investimentos diretos externos, a partir da abertura de setores da economia indiana, até então restritos às empresas nacionais. Nos últimos três anos, no âmbito do programa Make in India , forameliminadas restrições a investimentos estrangei- ros, o que contribuiu para que o país aumentasse em40% o volume de investimentos diretos recebidos. A abertura ao capital estrangeiro tornou-se a facemais conhecida da liberalização econômica promovida pela Índia. Paralelamente, como intuito de garantir estabilidade macroeconômica, a Índiacomprometeu-secomambicioso programade reduçãodedéficit fiscal econtrole inflacioná- rio, o que temgarantido taxas de câmbio estáveis e nível de preços dentro dasmetas. Namesma linha, o governo indiano tem-se empenhado empromover reformas estru- turais capazes de melhorar o ambiente de negócios no país. Em julho de 2017, por exemplo, entrou emvigor um novo sistema tributário. Baseado emumúnico imposto sobre o valor agregado, o Goods and Services Tax (GST) foi criado para substituir mais de uma dúzia de tributos por um único imposto sobre bens e serviços e eliminar os controles fiscais entre os Estados. A reforma tributá- ria vinha sendo discutida no país haviamais de dez anos. Sua aprovação é considerada como o maior sucesso da administração de Modi até o momento. Na área do comércio internacional, os esforços libe- ralizantes da Índia não são tão evidentes. O país tem balança comercial historicamente deficitária, sobre- tudo devido à importação de petróleo cru e ouro. A pre- ocupação com potenciais efeitos adversos no mercado interno (sobretudo no nível de emprego) e na balança comercial faz com que o atual governo indiano man- tenha atitude cautelosa em relação a acordos de livre comércio. Durante os três anos do governo do primeiro- ministro Modi, a Índia não firmou um único acordo de livre comércio de ampla cobertura. Na década passada, a Índia assinou acordos de livre comércio com os países da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), Coreia do Sul, Japão eMalásia. A percepção do atual governo, contudo, é de que esses acordos contribuírampara aumentar o déficit comercial do país e não geraramos benefícios esperados, o que jus- tificaria uma revisão domodelo de inserção da Índia no comércio internacional. Muitas das negociações comer- ciais em andamento encontram-se em compasso de espera ou perderam relevância em favor de acordos que gerem investimentos diretos na Índia. Lançado emabril de 2015, o documento que estabelece as diretrizes para a política de comércio da Índia até 2020 nemmesmomen- ciona a negociação de acordos comerciais como estraté- gia de inserção no comércio internacional. A Índia, por exemplo, negocia acordo de livre comér- cio comaUnião Europeia desde 2007, mas temdificulda- des para atender às demandas europeias relacionadas à propriedade intelectual. A Índia também participa das negociações da Parceria Econômica Regional Abran- gente (RCEP, na sigla em inglês), a qual busca estabele- cer área de livre comércio entre os países da Asean — Brunei, Camboja, Indonésia, Laos, Malásia, Myanmar, Filipinas, Cingapura, Tailândia e Vietnã —, alémde Aus- trália, China, Coreia do Sul, Índia, Japão e Nova Zelân- dia. Lançada em 2012, a RCEP seria uma alternativa à Trans-Pacific Partnership (TPP), cuja entrada em vigor ficoumais distante com a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos. Embora a parceria com os países vizi- nhos no âmbito da RCEP possa garantir à Índia a pre- sença em um megabloco econômico e maior integra- ção às cadeias globais de valor, são muitas as ressalvas apontadas pelo governo indiano. Apresença daChina na mesa negociadora da RCEP implica desafios significa- tivos para o comércio exterior indiano, que já enfrenta
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx