RESPM JUL_AGO_SET 2017

julho/agosto/setembrode 2017| RevistadaESPM 93 baixo) quantopor razões deproteção contra concorrentes estrangeiros (para cima). AAlcafoitambémemblemáticadasdificuldadesdopaís em buscar uma inserção internacional mais ambiciosa — aindaque,efetivamente,ostermosdanegociaçãotaiscomo concebidospelosEstadosUnidostornavamainiciativapouco atraente para países que prezavampor autonomia estraté- gicaemtemaseconômicos.OBrasiljogoudurodurantetoda a sua fase “neoliberal” e o projeto seria abortado definitiva- mente apenas em2005, já emoutros tempos. A culpa pelo fracassoulteriornãoseriaapenasdoBrasil,masasnegocia- çõesquemais tempoeespaçodemídia tiveramnahistória dopaíscertamentetomaramumtempoeenergiapreciosos semqueresultassemembenefícioscomerciaisconcretos.A verdade é que omundomudava rapidamente e as negocia- çõesdecomérciocomeçavamatergiversaremantecipação àentradadaChinanosistemamultilateral decomércio. A herança Emvirtude da conjuntura acidentada, os governos de FHC nãotiveramespaçoparatratarocomércioexteriordeforma suficientementeestratégica.Astrocasinternacionaisdopaís não tiverama devida prioridade e “pereceram” como uma mera consequência dos outros problemas da economia. O fatodequeocâmbiotenhafeitosuperávitsdesaparecerem, porexemplo,nãofoisuficienteparaquequalquerprovidên- cia fosse tomada “a tempo”. Desajustesmacroeconômicos maisgraves—taiscomofaltadedisciplinafiscalquealimen- tavaainflação,queporsuavezforçavaumaconsistentealta dejurosedocâmbio—impossibilitavammaioresambições nocomércioexterior, queapenas sofriaasconsequências. ApolíticacomercialbrasileiradosgovernosFHCacabou por ser razoavelmente conservadora. Emgrandemedida, o trabalho foi de administrar a burocracia do comércio e as pressões advindas do setor empresarial por proteção e apoio, já que havia muito receio de que os compromissos internacionaisdoBrasileaquelesemnegociaçãopudessem tornar aproduçãoaindamaispressionadadoque jáera.Na ausênciadereformasquepudessemtornaroprodutobrasi- leiromaiscompetitivoecomprocessosdeaberturaglobale regional emcurso, os setoresprodutivospassaramgrande parte do fim do século 20 receosos de mais concorrência estrangeiranomercadobrasileiro. Damesma formaqueo governo não lograva entregar uma rebaixa de juros ou do câmbio semadevidadisciplinafiscal, o setor empresarial não lograva entregar mais abertura sem que seus custos diminuíssemde forma consistente. A era FHC terminaria com um legado importante de reformas, mas com um comércio exterior combalido — pelomenos semvontade própria para se inserir de forma mais ambiciosa no comércio mundial. No entanto, seu grande mérito foi ter logrado resistir à tempestade das crises cambiais e criado as condições para que as trocas comerciais pudessemse reerguer como tema estratégico — e não apenas coadjuvante. Oque viria depois, a concor- rência chinesa e sua fome por commodities, configuraria um contexto completamente distinto e pleno de outros desafios e oportunidades. Mario Marconini Diretor-presidente da Teneo Strategy Naausênciade reformaspara tornar oprodutobrasileiro maiscompetitivo, omercadopassouo fimdoséculo20 receosodemaisconcorrênciaestrangeiranopaís shutterstock

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