Revista da ESPM
ABRIL/MAIO/JUNHODE 2018| REVISTADAESPM 107 Osproblemaséticosna comunicaçãoda indústria4.0 Como estabelecer parâmetros morais mínimos que diminuam as incertezas tanto para as empresas quanto para os consumidores no cenário “4.0” deste admirável mundo novo Por Luiz Peres-Neto A inda que demaneira abreviada, não podemos enfeixar qualquer debate sobreosproblemas e conflitos éticos contemporâneos decorrentes da chamada 4ª Revolução Industrial no uni- verso da comunicação e no marketing sem recuarmos alguns séculos para entendermos algumas das modifi- cações e permanências concernentes às transformações nomodo de produção capitalista. É imprescindível filiar a herança iluminista na criação de um sistema político estável, conhecido como democracia liberal burguesa, substrato de estabilidade jurídica e institucional que adveio como uma das condições necessárias para que, a partir do século 19, a Revolução Industrial ganhasse forma, primeiro movida a carvão, depois a eletricidade e, posteriormente, já iniciado o século 20, a base das cha- madas novas tecnologias da comunicação e da informa- ção (leia-se internet). Concomitante a todas essas revoluções, uma série de transformações nos modos de ser, ver e viver a vida foi introduzida. Precisamente, é emmeio a tal contexto que podemos situar uma correlação entre o surgimento de (novas) questões e problemas éticos que afligema socie- dade e a reorganização do sistema produtivo. Porque ética nada mais é do que a forma como refletimos sobre a vida humana, como pensamos sobre a nossa conduta e como levamos a cabo tais pensamentos. Por isso, podemos afirmar que todas as revoluções industriais, em maior ou menor grau, descortinaram novas questões éticas para a sociedade. Isso porque qual- quer discussão sobre uma vida de qualidade, ou seja, uma vida ética, passa pelas bases econômicas que permitem a sua realização ou não. Nas três primeiras revoluções industriais, as transformações na organização das for- ças produtivas geraram novas condutas e moralidades, deslindando problemas, conflitos e questões éticas. Esse breve recuo no tempo serve para evitar um des- lumbramento emtorno da 4ª Revolução Industrial, típico de certos autores que divisam nesta a única a apresen- tar questões éticas. Como bem lembra AntônioCandido, compreender o passado é umelemento importantíssimo para desvendar opresente e, aindamais, para pensarmos o futuro. E aqui cabe refletirmos sobre um ponto angu- lar. Às três revoluções industriais precedentes havia um modelo político que lhes dava certa estabilidade insti- tucional para o empreender. O cenário da 4ª Revolução Industrial, por sua vez, é outro: como argumentamdiver- sos cientistas políticos, enfrentamos globalmente — e não é de hoje — o esfacelamento de um modelo de polí- tica baseada na representação ideado pelo Iluminismo sem que tenhamos claro o que o substituirá. Para além da experiência brasileira, pensemos, por exemplo, fenô- menos tão diversos como o Brexit ou a eleição de Trump que, em suma, comungam de pressupostos comuns. Antiglobalismo neoliberal (o que é, por antonomásia, uma contradição), o resgate de pressupostos identitários excludentes, populismo, simplificação e banalização da política, além de uma profunda crise de representativi- dade política aliada ao esvaziamento da esfera pública. Mas por que a crise no sistema político é tão impor- tante para pensar a ética da 4ª Revolução Industrial? Ao contrário das anteriores revoluções industriais que tinham ummodelo político-institucional estável como
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx