Revista da ESPM
MARKETING REVISTA DA ESPM | ABRIL/MAIO/JUNHODE 2018 108 pressupostopolítico, nestequartomomentonãoo temos. Ademocracia representativa liberal burguesa encontra- -se na berlinda. E muitas das questões éticas emergen- tes, emespecial as relacionadas aos usos e apropriações das tecnologias da informação e da comunicação, irão requerer algum tipo de regulação (ou não). Isso posto, cabe dizer, ademais, que temos uma ecologia infor- macional única que permite a construção de enormes redes, cujos usos, como demonstrou Edward Snowden, nem sempre se adéquam ao que estabelecemos como eticamente aceitável ou democraticamente desejável. Nunca estivemos tão conectados em tantas redes e imersos em tantos fluxos informacionais compessoas, objetos, robôs e um sem-fim de avatares. A ética na e da 4ª Revolução Segundo o Fórum Econômico Mundial, a chamada 4ª Revolução Industrial ou “4.0” não tem em si ajus- tada uma nova forma de tecnologia, posto que opera a partir das tecnologias preexistentes. Contudo essa seria uma verdadeira revolução industrial, na medida em que rearticula radicalmente o modo de produção e introduz a capacidade de que sistemas autônomos, ciberfísicos — que combinem o ideal maquínico com o refino digital — cooperem com os homens, por exem- plo, a partir da chamada internet das coisas oumesmo por meio de robôs; ambos são capazes de deliberar a partir de sofisticadosmecanismos de inteligência arti- ficial, mitigando teoricamente possíveis desvios. Ade- mais, trata-se agora da revolução da biologiamolecular, da engenharia genética aliada ao digital que permite raquear o próprio ser humano. Adentramos na etapa em que as infraestruturas prévias permitem ampla gama de intervenções criativas potencializadas por sistemas digitais. Incluídos os campos da biologia, da genética e das neurociências. Entusiastas da 4ª Revolução Industrial minimizam a crise no modelo político-institucional e afirmam que essa nova revolução representaria muito mais uma mudança de paradigma (em como vivemos a vida e nos comportamos) do que qualquer consideração acerca de desenvolvimentos tecnológicos e das intervenções polí- ticas sobre eles. Ora, todas as revoluções, em síntese, o são, e por isso trazem novos problemas e questões éti- cas. Tais entusiastas descontextualizamas revoluções industriais anteriores eminimizam interessadamente os impactos culturais e sociais provocados por elas com o afã de maximizar a atual etapa de reorganização do modo de produção capitalista e, talvez, ocultar as con- tradições inerentes a ele, com os conflitos éticos que dele emergem, a começar pela disputa sobre o governo da vida boa. Uma disputa que, a nosso juízo, é eminen- temente comunicacional, o que representa por si só um enorme desafiopara os agentes do campodas indústrias da comunicação e de áreas correlatas. Vida boa e conectada Um tema central nas discussões sobre ética é a ques- tão do bem comum e da vida boa. Como, a partir do governo da vida em comum e de si mesmo, da adoção de um conjunto de valores e princípios, conseguimos atingir a vida boa em sociedade. A não ser que ado- tássemos o egoísmo como valor, em síntese, de nada adianta a conquista de objetivos individuais se esses não são postos a serviço do bem comum. Os discursos sobre a 4ª Revolução Industrial e suas implicações éticas tendem a oscilar em duas direções. Por um lado, encontram-se narrativas distópicas, que shutterstock Nunca estivemos tão conectados emtantas redes e imersos emtantos fluxos informacionais compessoas, objetos, robôs e umsem-fimde avatares
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