Revista da ESPM

PONTO DE VISTA REVISTA DA ESPM | ABRIL/MAIO/JUNHODE 2018 114 Luciano Coutinho OBrasilprecisadespertar paraa4ªRevoluçãoIndustrial U ma poderosa onda de inovações tecnológi- cas está em curso e começa a revolucionar os padrões de produção, gestão e sociabili- dade. Tecnologiasdisruptivas jáestãoemuso eoutrasevoluemrapidamente, podendose tornar comer- cialmente viáveis na próxima década. Seus impactos serão profundos sobre produtividade, perfil dos empre- gos, requisitos de treinamento e qualificação, distribui- çãode renda e riqueza, comércio internacional e divisão do trabalho, bem-estar das sociedades emeio ambiente. É difícil prever com precisão o que acontecerá, mas, ao observar a velocidade das mudanças que ocorreram emumpassado recente, é lógico concluir que serão ace- leradas e profundas. Em poucos anos, a proliferação de smartphones conectou centenas de milhões. Em 1995, estimava-se em 4,5 milhões os computadores conecta- dosà internet, com15milhõesacessandoaweb. Em2016, segundoaOrganizaçãopara aCooperaçãoeDesenvolvi- mentoEconômico (OCDE), 1bilhãode indivíduos (13%da população global de 7,5 bilhões) já estavamconectados. Dentro de mais cinco anos, em 2022, estima-se que 14 bilhões de objetos,máquinas, equipamentos, aparelhos celulares (2,4 bilhões) estarão interligados. Em2030, os dispositivos pessoais de acesso àweb podemchegar a 8 bilhões (94% da população), sendo que o total de objetos conectadospodealcançarmaisde30bilhões. Economias nacionais e suas respectivas sociedades estarão, assim, conectadas a uma super-rede digital global. A indústria fará parte dessa imensa rede. A automa- ção industrial será articulada pela internet, englobando todasascadeiasprodutivas, desdeosuprimentodematé- rias-primas, insumos, partes e subconjuntos, passando pelos processos demanufatura, distribuição, comercia- lização, e chegando até os consumidores. Será possível otimizar o uso demáquinas, poupar energia e insumos, diminuir estoques, otimizar e planejar manutenção e logística emescopo hoje inalcançável. Não à toa, iniciativas relevantes de política indus- trial e tecnológica 4.0 já ganharamcorpo emeconomias desenvolvidaseemalgumasemdesenvolvimento,unindo forças entre governo, empresas, universidades e institu- tosdepesquisa. NaAlemanha, desde2012, estruturou-se uma parceria entre o governo e a indústria para promo- ver amanufatura digitalizada integrada pela internet (a PlattformIndustrie4.0). OsEstadosUnidos lançaramem 2011aAdvancedManufacturingPartnership,queem2016 teve a denominaçãomudada paraManufacturingUSA. Sobo impactodas iniciativasdaAlemanha edosEsta- dos Unidos, a Inglaterra e outros países europeus, além de JapãoeCoreiadoSul, lançaramprogramas semelhan- tes. Já a China, detentora da maior base manufatureira da economia mundial, ambiciona chegar em 30 anos à liderança global emmanufatura avançada. Em contraste, o Brasil não só não dispõe de um pro- grama estruturado para o avanço da internet das coisas edamanufatura avançada, como tambémvem, recente- mente, reduzindodemodo imprevidente investimentos públicos e gastos de suporte ao sistema de ciência, tec- nologia e inovação. Não se trata apenas da falta de uma estratégia nacional ante a 4 a Revolução Industrial, mas do riscode retrocessoedesarticulaçãodonosso sistema nacional de inovação. Opaísprecisacomurgênciadeumprogramanacional de avanço industrial e tecnológico em direção à econo- miadigitalizadaeàmanufaturaavançada.Nesseprojeto, será indispensável cuidar do desafio de qualificação do trabalho e das necessidades de preparar os trabalhado- res para o reemprego em outros setores ou atividades, sob pena de aprofundamento das desigualdades. Nesse sentido, as instituições de ensino têm um papel funda- mental no esforço da diminuição do abismo que separa oBrasil dos líderesmundiais emmanufatura avançada. Luciano Coutinho Mestre e Ph.D. em economia, professor convidado do Instituto de Economia da Unicamp, foi secretário-geral do Ministério da Ciência e Tecnologia (1985-1988) e presidente do BNDES (2007 a 2016) divulgação

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