Revista da ESPM

ENTREVISTA | RONALDO FRAGOSO REVISTA DA ESPM | ABRIL/MAIO/JUNHODE 2018 12 Revista da ESPM — Acho que pode- mos começar com alguma conceitua- ção do que vamos chamar de Indústria 4.0 ou 4ª Revolução Industrial. Há vários nomes sendo utilizados para definir a mesma tendência. Como a De- loitte conceitua isso e o que a sociedade pode esperar dessa nova era? Ronaldo Fragoso — O que define a Indústria 4.0 é a integração dos mundos físico e digital. Vários dos modelos de negócio que existem hoje ainda têm um componente físico muito forte, como ocorre nos setores de varejo, automotivo, bancário e de telecomunicações. Eles têm uma série de componentes físicos, mas também um componen- te digital. A questão é: como você viabiliza essa integração? Revista da ESPM — O que acontece quando a indústria une componentes físicos e digitais? Fragoso — A explicação mais gené- rica é que, a partir dessa integração entre o físico e o digital, vai surgir uma série de novos produtos e servi- ços. Vamos pegar um caso bastante típico, o carro autônomo. Você vai ter um componente digital (o sistema de direção) acompanhado de um com- ponente físico (o automóvel). Essa é uma transformação que a Indústria 4.0 traz. Desdobramento disso: toda a indústria de autopeças também vai ser transformada. É provável que os componentes mecânicos e elétricos sejam entregues às montadoras de automóveis como serviços, em vez de vendidos como insumos. Revista da ESPM — Depois do Sof- tware As a Service (SAS) , teremos o Hardware As a Service ? Fragoso — É isso aí. Essa é uma transformação. Outro aspecto apa- rece se você pegar o conceito de varejo. As pessoas poucas vezes pa- ram para pensar em quais são seus hábitos quando vão fazer compras. Imagine o seguinte: quando você vai a um supermercado, algum for- necedor já foi lá e entregou aquela mercadoria. O varejista recebeu e colocou no estoque. Do estoque, o produto foi para a prateleira. Você pega na prateleira e põe no seu car- rinho. Pega do carrinho e passa no check-out . Depois de pagar, coloca de novo no carrinho. Tira de lá e põe no seu carro. Do seu carro, tira e guarda na despensa da sua casa. De lá, você ainda vai tirar, desembalar e colocar na geladeira. São oito ou dez operações que não têm valor. As pessoas fazem por hábito. Se você mudar o conceito de cadeia de supri- mento e de serviço, o supermercado vai poder entender o seu hábito de fazer compras — e já há mode- los para isso. Quando você entra numa loja da Amazon Go e escolhe o produto, sensores registram sua compra, o valor é debitado direto no seu cartão e alguém entrega a mer- cadoria na sua casa. Revista da ESPM — Embora seja chamada de Indústria 4.0 — e, de fato, há fábricas 4.0 sendo inauguradas no Brasil —, esta revolução não necessa- riamente está ligada à indústria. Fragoso — A própria pesquisa da Deloitte mostrou que Indústria 4.0 é muito mais do que a indústria em si. Ela afeta a relação entre clientes, for- necedores e cadeia de suprimentos. O primeiro aspecto é a mudança de estratégia. O segundo, a tecnologia em si. O que a 4ª Revolução Industrial vai trazer que não víamos no passa- do? Inteligência artificial, robótica, computação cognitiva, Internet das Coisas [IoT, na sigla em inglês], todo esse conjunto de mudanças que a tecnologia permite. O componente recursos humanos é o terceiro ponto, e o quarto é o impacto de tudo isso em relação à sociedade como um todo. Por meio de Waze, Uber, aplicativos mobile em geral e tecnologias na área financeira, já convivemos com uma certa mudança associada à 4ª Revolu- ção Industrial. Revista da ESPM — A Deloitte é con- siderada uma das pioneiras em chamar para si a responsabilidade por enten- der essas transformações, para poder ajudar as empresas. O que levou vocês a apostar nesse conceito de Indústria 4.0 e a se aprofundar nesse assunto? Fragoso — A Deloitte hoje é a maior empresa de auditoria e consultoria do mundo e tem uma série de cen- tros de pesquisa. Esse fenômeno da Indústria 4.0 foi avaliado como Várias companhias estão falando sobre digitalização há alguns anos, mas poucas delas estão realmente preparadas para todas as mudanças que a Indústria 4.0 exige

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