Revista da ESPM
ENTREVISTA | RONALDO FRAGOSO REVISTA DA ESPM | ABRIL/MAIO/JUNHODE 2018 14 por hora, por projeto, em casa, como freelancer , porque o risco que o empre- gador tem no exterior é muito menor. A porcentagem dos executivos que acreditam na mudança para novas modalidades de contrato de trabalho aqui é de 40%ante 61%no exterior. Revista da ESPM — Isto não é um pouco de negação, no sentido psicoló- gico da palavra? Fragoso — Historicamente, nós sem- pre tivemos limitações trabalhistas. Isso sempre foi um problema. Ainda que nossa legislação trabalhista te- nha sido modificada agora, as pesso- as não têmuma visão clara do que vai acontecer. Então reagem pelo históri- co. Outro caso é o daqueles que ainda não enxergaram os caminhos para que essasmudanças sejam feitas. Revista da ESPM — Só um terço dos executivos entrevistados na pesquisa glo- bal disse estar pessoalmente preparado para a nova revolução industrial. Qual a porcentagemaqui no Brasil? Fragoso — A Deloitte não separou essa questão por país. Provavelmen- te, deve ser muito próxima. Revista da ESPM — Você acredita quando alguém diz que está prepara- do para essa revolução? Fragoso — Não. Revista da ESPM — Você está pre- parado? Fragoso — Também não. O que posso dizer é que hoje estou mais consciente das mudanças. Revista da ESPM — Computação quântica, inteligência artificial, ro- bótica, Internet das Coisas, entre outras tecnologias, estão provocando mudanças profundas no mundo dos negócios. Diante dessas transforma- ções, como a gestão empresarial vai ter de se ajustar? Fragoso — Primeiro, aceitar que fica quase impossível ter todas as soluções dentro de casa. Achar que você vai resolver os problemas da sua empresa sem ajuda externa já é um erro de largada. Esse modelo mais conectado pressupõe que você use o conceito de plataforma de produtos e serviços (aberta tam- bém para terceiros). Por isso é que todo mundo quer se aproximar das universidades e das startups. O que elas vão criar? O que posso tirar de benefícios, já que não tenho essa velocidade dentro de casa? Tenho de me associar a alguém para fazer melhor, mais rápido, com mais qua- lidade, sem as travas que existem nas corporações. Segundo ponto: admitir que você não vai adotar to- das as tecnologias ao mesmo tempo. Quem entende que tem de instalar inteligência artificial, computação cognitiva, sensorização, IoT, tudo ao mesmo tempo, provavelmente não fará direito, vai gastar um ca- minhão de dinheiro e chegar à con- clusão de que não resolveu a metade dos problemas. Revista da ESPM — Esse cenário é perfeito para startups. Elas são mais ágeis, mais dinâmicas e se adaptam mais rapidamente às mudanças. Mas há quem diga que a capacidade de in- vestimento de gigantes multinacionais vai predominar. Qual dessas visões lhe parece correta? Fragoso — As duas. É só você olhar para o que aconteceu ao longo da história da tecnologia com a IBM. Ela era muito voltada para hardwa- re, mas sua capacidade de investi- mento era um diferencial. Em dado momento, migrou para software, enquanto uma série de empresas foi ocupando nichos no mercado de computadores. Do mesmo modo, agora uma empresa grande vai ter capacidade para, por exemplo, usar neurociência para desenvolver inte- ligência artificial. Revista da ESPM — Pela sua capaci- dade de investimento, você quer dizer? Fragoso — Uma capacidade que uma startup não teria, porque isso requer estudo, pesquisa, investimento pesado em tecnologia. Mas startups vão criar soluções para agregar à plataforma da gigante. Francamen- te, ainda não conseguimos avaliar o que vai acontecer socialmente. Que- ro dizer o que esses desdobramen- tos vão acarretar em várias cadeias. Vai haver espaço para startups e gigantes conviverem. Ogrande varejista vai permanecer. Mas já temnovas empresas de tecnologia entrando no varejo
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