Revista da ESPM

ENTREVISTA | RONALDO FRAGOSO REVISTA DA ESPM | ABRIL/MAIO/JUNHODE 2018 16 Revista da ESPM — E como se de- senvolvem essas competências? Fragoso — O treinamento é contí- nuo. Dou meu exemplo pessoal, mes- mo depois de velho. Minha formação foi em computação. Comecei minha carreira nessa área, depois fui fazer pós-graduação em administração e economia. Agora voltei a fazer um mestrado em administração para entender o que está mudando. O processo é contínuo. Não tem uma formaçãomelhor do que a outra, mas é preciso ter a capacidade de inter- pretar essasmudanças e prever o que elas vão trazer para sua vida pessoal, para a empresa em que você traba- lha, para a sociedade como um todo. Isso vai fazer comque você enxergue umpouco à frente. Revista da ESPM — O maior efeito colateral da 4ª Revolução Industrial é o aumento do desemprego gerado pelo desenvolvimento tecnológico. A própria Deloitte chegou a divulgar um estudo afirmando que 35% dos empregos do Reino Unido podem ser extintos nas próximas duas décadas. Como enfrentar esse problema? Fragoso — Vou demonstrar isso de outra perspectiva. Nós entendemos que a capacidade de adaptação do ser humano não vai permitir o desempre- go em massa, ainda que você tenha algumas funções extintas. Vamos pegar os casos dos atendentes de telemarketing ou caixas de supermer- cado. Em todas essas funções repeti- tivas, as pessoas vão ser substituídas por uma tecnologia que permita fazer a mesma coisa de uma forma melhor, mais barata e mais rápida. Por outro lado, vai ser criada uma quantidade enorme de novas oportunidades. Vai haver uma migração ao longo do tempo para outras funções. Quando a tecnologia começou a entrar nos bancos, também se falava num pro- cesso de demissão em massa. Isso não aconteceu. Revista da ESPM — Como assim, não aconteceu? Fragoso — Funções foram elimina- das, mas outras foram criadas para lidar com novos serviços. Revista da ESPM — No exemplo que você deu, no início da entrevista, de uma operação de varejo em que o cliente não precisa mais passar no check-out , o supermercado não vai mais ter a figura do caixa. O que se vai fazer com esse trabalhador? Não haverá demissões em massa? Fragoso — Nós não acreditamos nis- so. Provavelmente, vai se qualificar essa pessoa ou contratar alguém para exercer uma outra função, que vai ser a análise de informações ou o atendimento do cliente de uma outra maneira. O desafio é: como eu qualifico e como vou contratar? Revista da ESPM — Como fica o desafio da gestão de pessoas dentro das companhias se, de um lado, elas vão automatizar, robotizar, criar pro- cessos que usam tecnologia intensiva e não precisam de gente e, de outro lado, vão ter de recrutar profissionais com novas competências? Fragoso — A gestão de pessoas do futuro é muito mais complexa. Exis- te hoje um conjunto de pessoas nas áreas de finanças e de tecnologia que provavelmente não vai mais ser necessário no futuro. Mas essas pes- soas já têmcompetências que podem ser adaptadas para outras funções, com qualificação, treinamento e mu- dança de perfil. Outras pessoas vão ser trazidas de fora, provavelmente com novos formatos de contratação, por projeto, por hora etc. Revista da ESPM — Seremos capa- zes de aproveitar as oportunidades à nossa frente? Ou corremos o risco de perder, de novo, o bonde da história? Fragoso — Nós, aqui no Brasil, te- mos uma capacidade rápida de re- ação, temos criatividade, ótimos talentos com capacidade para usar este momento para criar novos modelos de negócio, adaptar suas empresas, se reinventar. Mas tudo vai depender de uma melhora na economia e nas políticas públicas. Não adianta cada um, heroicamen- te, achar que vai fazer a sua parte. Temos bons empreendedores no Brasil, pessoas com capacidade de criação e de investimento, um mercado muito amplo, mas temos de conectar tudo isso a melhores políticas de investimento em infra- estrutura. Eu sou otimista. Apenas umterçodos executivos se diz preparadopara amudança.Mas a capacidade de adaptaçãodo ser humanonão vai permitir odesemprego emmassa, aindaque você tenha algumas funções extintas

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