Revista da ESPM

REVISTA DA ESPM | ABRIL/MAIO/JUNHODE 2018 18 Letramento4.0 - competências ehabilidadesparaotrabalho Que competências uma pessoa deve desenvolver para manter o seu valor como indivíduo e como profissional em um ambiente de mudança acelerada como este em que vivemos? A resposta passa pela (re)unificação da arte, ciência, tecnologia e pensamento humanístico em um todo que diferencia o ser humano da máquina PorAlexandreGracioso PANORAMA A biografia de Leonardo da Vinci, escrita por Walter Isaacson, começa com uma tentativa de descrever Leonardo a partir de como ele próprio se enxergava. Figuramonumental na históriadahumanidade, Leonardoéconsideradopormui- tos, Isaacson inclusive, omaior gêniocriativoque jáviveu, como aponta a passagem descrita em Leonardo da Vinci (Simon & Schuster, 2018): “Na época emque ele alcançou o desconcertante marco dos 30 anos, Leonardo da Vinci escreveu uma carta ao governante de Milão listando as razões pelas quais ele deveria receber um emprego. Ele haviasidomoderadamentebem-sucedidocomopintor em Florença, mas teve problemas para terminar suas enco- mendas e buscava novos horizontes. Nos primeiros dez parágrafos dessa carta, ele descreveu, de forma bastante autolaudatória, suashabilidadesdeengenharia, incluindo sua capacidade de projetar pontes, canais, canhões, veí- culos blindados e edifícios públicos”. Apenas no décimo primeiro parágrafo, o último, Leo- nardoacrescentouque tambémeraumartista. “Damesma forma, napintura, posso fazer qualquer coisaque sepossa imaginar”, escreveu ele. “Sim,elepodia. Eleiriacriarasduaspinturasmaisfamo- sas da história, AÚltima Ceia e a Mona Lisa . Mas, emsua própriamente, ele era tantoumhomemde ciênciaquanto de engenharia”, explicaWalter Isaacson emseu livro. Para o autor, o século 15 apresenta importantes simi- laridades com o século 21: foi um período histórico de “invenção, exploração e difusão de conhecimento por meio de novas tecnologias”. E, segundo Isaacson, Leo- nardo demonstrou, unindo arte, ciência, tecnologia e humanismo, como é possível navegar no mar de inova- ção e incerteza que tais momentos acarretam. Talvez o século 21 sejamarcado, realmente, pela redescoberta da mentalidade renascentista. Permitimos que a ciência e a tecnologia, por um lado, as afastassememdemasia da arte e do pensamento humano. Tudo indica que este é o momento de promover uma necessária unificação em nossa forma de enxergar o mundo. Formação para o trabalho e para a vida – um problema global No Brasil, assim como no restante domundo industria- lizado, mudar a área de atuação não somente uma, mas várias vezes, ao longo da trajetória profissional do indi- víduo, se tornou a regra em vez da exceção. Um estudo conduzido pelo economista Naércio Menezes Filho — e publicado na edição de 28 de janeiro do jornal Folha de S.Paulo — apontou que menos de 50% das pessoas, em 34 das 41 profissões analisadas, trabalhavam em alguma área de atuação compatível com a sua forma- ção universitária. Esse fenômeno é mundial e coloca um desafio para quem quiser se manter competitivo e relevante profissionalmente: a pessoa precisa se prepa- rar para aprender e dominar funções para as quais não teve formação prévia.

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