Revista da ESPM

ENTREVISTA | FLAVIO PRIPAS REVISTA DA ESPM | ABRIL/MAIO/JUNHODE 2018 88 Flavio — O caso mais óbvio, para mim, são as transações, assinaturas de qualquer contrato, de compra e venda, assim por diante. Isso vem antes do que os puristas chamam de bitcoin [moeda virtual]. O bitcoin é o primeiro caso do uso em larga escala do blockchain como tecnologia. Mas no começo se falava em ruptura no mercado financeiro, que depois absor- veria o protocolo. Não está ocorrendo bem assim. O blockchain será usado primeiro na assinatura de contratos. Depois virá para machine to machine , com o rastreamento de movimen- tação de materiais e logística. O uso financeiro com bitcoin é só uma pri- meira tentativa. Revista da ESPM — Um grande de- safio da sociedade na indústria 4.0 é administrar recursos humanos no momento em que as máquinas estão absorvendo uma fatia cada vez maior do mercado formal de trabalho. Há startups aproveitando oportunidades a partir dessa, digamos, obsolescência do ser humano? Flavio — Hoje, ficamos no dilema de saber se a tecnologia vem para ajudar ou prejudicar e acabar com a humani- dade. Sou da opinião de que ela vem para ajudar. A tecnologia pode au- mentar o potencial humano. Vou dar o exemplona área deRH: se eu fosse seu chefe, poderia promovê-lo por simpa- tia. Uma pessoa pode ser promovida ou demitida por um viés subjetivo. Existem empresas que usam a tecno- logia para evitar esse viés e extrair o melhor de cada pessoa para o bem da companhia. A tecnologia pode, portanto, prevenir e conciliar esse dilema. No Cubo, nós temos empresas de RH focadas em soluções de trei- namento e recrutamento com uso de novas tecnologias. Revista da ESPM — O Vale do Silício é o maior celeiro do mundo de startups e responde por 12% das exportações americanas, em parte por três motivos: livre trânsito de ideias, profissionais com altíssimo nível educacional e farto aces- so a capital de investimento. Estamos longe demais dessa realidade? Flavio — Remeto às variáveis citadas logo no início da nossa conversa e que fazema indústria 4.0 florescer: acesso a talentos, acesso a capital e ambiente empreendedor, entre outros. O Vale do Silício abriga mais de 1 milhão de pessoas. Tem densidade. Só se fala nesse assunto, empreender. No Cubo temos um espaço, embora limitado, para replicar o Vale do Silício. Com- parando umambiente comoutro, não sou nem otimista nem pessimista. Estou no lado pragmático, que é o empreendedorismo. O Brasil não tem esse empreendedorismo de alto impacto. Não temos vocação natural. Mas é fato também que o nosso em- preendedor não é diferente do que en- contramos no resto do mundo. O que nos falta é a visão global. O Brasil tem um mercado doméstico grande de- mais para explorar e por isso tende a não olhar para o exterior. Já os países menores, como Israel, vão logo para o mundo. NoVale do Silício se criamso- luções para resolver os problemas do mundo. Isso nós não temos no Brasil. Essa é uma das diferenças. Revista da ESPM — Como você anali- sa o ambiente de investimentos? Flavio — Capital hoje não é problema. As pessoas acham que estou men- tindo, mas não vejo isso como um problema. Se as pessoas que empre- endem pensam na subsistência, um salário, não vão ter acesso a capital. Agora, se você desenvolve um produ- to, investe na sua produção e é com- petitivo no mercado, vai ter capital e investidor-anjo. Revista da ESPM — Mas não estamos atrasados nessa parte reguladora? Muitos investidores se queixam de que se sentem desprotegidos pela lei e assu- mem riscos legais que caberiam somen- te ao gestor da startup. Flavio — Estamos atrasados. Em ou- tros países há mais proteção, sem dúvida. Temos de melhorar, mas con- tamos já com instrumentos que defen- dem o investidor. Hoje temos meca- nismos que protegem o investidor em processos trabalhistas. A legislação é complicada. Mas todo dia encontro gente que investe. Todo dia vejo in- vestidor que se manifesta. Vivo numa bolha artificial, onde só se fala nisso, eu sei. Mas tenho a impressão de que há mais dinheiro disponível do que projetos para investir. Revista da ESPM — Isso tem atraído Escala no mundo se obtém ou com tecnologia ou commuito dinheiro. Como não têmmuito dinheiro à disposição, as startups usam tecnologia como meio para obter escala

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