Revista da ESPM
JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇODE 2018| REVISTADAESPM 11 No artigo Convergência da mídia e o futuro dos veículos , Nelsonanteviaqueos jornais impressosdesucessonouni- versodigitalseriamaquelesqueseadequassemaosinteres- sesmais específicos dos leitores—enãouma vaga ideiado queopúblicodesejava—eos que trilhassemo caminhoda convergência.Umadesuasvisõeseradequesepopulariza- riamos chamadosmediacenters, nos quais as linguagens integradasdetexto,vídeo,áudio,e-mail,jogosetc.estariam à disposição do público a qualquer momento. Hoje, isso é chamadode smartphone, umaparelhoque revolucionoua forma comonos relacionamos comomundo. Atéoadventoda internet e, depois, damassificaçãodas redes sociais, credibilidade informativaeraummonopólio naturaldosjornalistaseveículosdecomunicaçãoprofissio- nais.E,comoemqualqueratividade,algumasmarcascons- truíramníveisdereputaçãoequalidadesuperioresaoutras. As redes desafiarama noção do jornalismo como fonte crível de notícias — algo impensável há 25 anos — e emum dadomomentopareciaque iriamassumir apontade lança da verdade. Ao daremvoz e vez a centenas demilhões de usuários, que até então recebiam informação de modo passivo, as redes criaram a percepção de que a realidade estava sendomoldada por umamassa bem-intencionada emespalhar vídeos, textos e áudios comsua verdade. A realidade sempre foi objeto de profunda controvér- sia entre estudiosos da comunicação. No fundo, o real depende da perspectiva — a angulação com que se cobre umahistória. Emrazãodoângulodeabordagem, as forças que reprimem uma manifestação violenta podem estar cumprindo umritual de defesa da ordemdemocrática ou representar omassacreda livre expressão. Emgeral, bons jornaiseveículosprofissionaisprocurammostrardiferen- tes ângulos da realidade, de forma a separar o ativismo, que é a defesa de uma causa ou ideia, do jornalismo, que temcompromisso coma verdade e o equilíbrio dos fatos. Em seu tsunami ativista, as redes imaginavam-se as novas donas da realidade até que foram tomadas de assalto por umfenômeno perverso, gerado por quemnão se contentava apenas emescolher e cobrir umsó ângulo damanifestação,mas passara a criar e compartilhar ima- gens e textos concebidos para distorcer fatos e impor a sua verdade à custa de mentiras, armações e impulsio- namento artificial das falsidades pormeio de robôs. Com as fake news urdidas nos intestinos do ativismo, pela pri- meira vez na história, umamentira podia se disseminar emhoras para centenas de milhões de pessoas. Foioqueaconteceu,porexemplo,nacampanhadeRodrigo Duterte, eleitopresidentedasFilipinasem2016. Aimagem deumameninasupostamenteabusadaemortaporumtra- ficante jogou combustível na fogueira de ódios em que se transformaraacampanhaeajudoudecisivamenteosparti- dáriosdeDuterteemsuadefesada linhaduríssimacontra o tráfico. A foto, porém, era de uma criança brasileira de 9 anos que havia sido assassinada noPará dois anos antes. A eleição de Donald Trump destampou em escala mundial o estratagema de distorcer ou inventar notí- cias para benefícios políticos, econômicos e pessoais. E aí se passou a assistir a uma nova reviravolta. Embusca de confiança, três semanas após a eleição, 132 mil nor- te-americanos assinaram o jornal The New York Times . Emdezembro de 2017, o jornal contava com2,1milhões de assinantes digitais, além de outros 1,1 milhão no impresso— amaior audiência de sua história de 110 anos, graças simplesmente à necessidade de as pessoas con- fiaremno que leem e veem. Quando miramos 2028, é previsível que se produzam novas reviravoltas tecnológicas,masmais relevantequeos devices são os conceitos sobre jornais — emeios informati- vos—que farãopartedenossasvidasdaqui adezanos eaté mais além. Alguns sãoprincípios que já estãoentrenóshá décadas, mas que ganham importância crescente emum cenáriode turbulência comooque vivemos e, tudo indica, viveremosmais intensamente daqui por diante. Confiança Confiança passou a ser gênero de primeira necessidade e será um bem cada vez mais escasso. Para combater as fake news , surgiram agências de checagem, mas com elas também serão criadas as falsas agências. Hecha la ley, hecha la trampa . Por isso, jornais com sua tradição, técnicas e códigos internos saíram do corner das redes e se apresentarão cada vez mais como a vanguarda da credibilidade. O público passou a reconhecer o novo papel de certi- ficadores dos meios de comunicação. Uma pesquisa de junhode 2017, doReuters Institute, ligado àUniversidade de Oxford, com 70 mil consumidores de notícias on-line de 36 países, revelou que osmeios profissionais ganham espaço, eas redesperdem, naconfiançadapopulação. Para oBrasil,háumdadoadicionalasercomemoradoemantido:
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