Revista da ESPM

JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇODE 2018| REVISTADAESPM 35 shutterstock Caso você identifique uma dessas repetições — algo absolutamente improvável, não por inexistirem trechos repetidos, mas por inexistirem leitores com memória tão apurada a ponto de identificá-los (não tendo perfil ativo em redes, não tenho “seguidores”, o que muito me alivia) —, peço que releve, pule o parágrafo e siga adiante. E agora começo. Antes de falar mal, vamos falar bem. É claro que as redes sociais trouxeramarejamentos consideráveis para o debate público. Elas abriram novos canais para diálo- gos emobilizações e desempenharamumpapel bastante positivo para que as pessoas pudessemse organizar e se expressar contra Estados pouco sensíveis e pouco aber- tos ao diálogo. Episódios como a Primavera Árabe são bons exemplos disso. As redes ajudaram a destampar demandas do público, ajudaram a dar visibilidade para reivindicações populares e trouxerammais vigor às dinâ- micas sociais, alémde terem incrementado a velocidade para os entendimentos espontâneos entre cidadãos na chamada esfera pública. Mais ainda, elas tornarammais do que evidentes, escancaradas, as debilidades e as limi- tações do Estado em se comunicar com a sociedade, e impuseram agendas de mais transparência e melhores níveis de accountability à máquina pública. Pontos para as redes, portanto. Muitos pontos. Quando apontamos problemas nessa nova dimensão do ciberespaço, devemos deixar claro, logo de início, que as redes não são um, por assim dizer, “mal em si”. Não são umdemônio. Não são o cavaleiro do apocalipse. Gosto de lembrar que a televisão foi criticada como um prenúncio do fimdomundo quando apareceu. Algumas críticas, como as de JerryMander, até que erampertinen- tes,mas, numa escalamaior, esses ataques se revelaram, mais tarde, umsintoma de reacionarismo tecnológico e cultural, vindo de forças inconscientes decorrentes da dificuldade que todos temos de lidar com rupturas, com

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