Revista da ESPM

JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇODE 2018| REVISTADAESPM 37 Ousuárioque temperfil ativonoFacebookeacredita queéoconsumidor eobeneficiáriodaparafernália toda naverdadeéoescravo, amatéria-primaeamercadoria fraudulentas repercutemmais do que as verdadeiras. E mais rapidamente. Há tambémpesquisas quemostram queas fake news arrebatamas amplasmassasdeummodo acachapante, numgrau jamais atingido pelosmeios jor- nalísticos ditos convencionais. O segundo fator é econômico. Notícias fraudulentas dão lucro. Dentro do ambiente virtual do Google e do Facebook, a fraude compensa. Quanto maior o número de clicks, mais o autor da fraude fatura. E, como a men- tira é fácil de produzir (é barata) e desperta o furor das audiências, um dos melhores negócios da atualidade é noticiar acontecimentos que nunca aconteceramde ver- dade — e que, mesmo assim, despertam emoções fortes nos chamados internautas. As redes sociais acrescentamà paisagemglobalitária um pacote inédito de perversidades. Por meio delas, as notícias circulamsegundoosditamesdoentretenimento, que se orientam exclusivamente por fontes pulsionais, sem as mediações da razão. Já é sabido que a indústria do entretenimento nunca apreciou a razão, e isso desde suas origens, que remontam às revistas de amenidades e fait divers , cujo nascedouro data do século 17. Agora, o quadro é bempior. Diferentemente do que acontecia na televisão ou no cinema, a propagação das mensagens nas redes depende diretamente da ação das audiências, nas quais o desejo leva vantagem sobre o pensamento. Uma notícia (falsificada, fraudulenta ou mesmo verda- deira, pouco importa) só se difunde à medida que cor- responda a emoções, quaisquer emoções, “positivas” ou “negativas”. Sobre o factual predomina o sensacional — daí o sensacionalismo. Sobre o argumento, o sentimento ou o sentimentalismo. Esses registros da percepção e do sensível, que passampelo desejo, pelo sensacional e pelo sentimental, proporcionamconforto psíquico aos indiví- duos enredados emsuas fantasias narcisistas. A receita se revelou infalível e o resultado está aí —ou, melhor, está logo ali, um pouquinho além do alcance dos olhos mer- cadejados das massas inebriadas. Os 100 milhões de brasileiros que mantêm um perfil pessoal namaior rede social do planeta tratamos outros, os que estão de fora, comar de espanto. A evasão de inti- midades em que estamos submersos é a regra totalitá- ria. Até mesmo a fé — algo ainda mais íntimo que o sexo — ganhou estatuto de espetáculo nas telas eletrônicas, shutterstock

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx