Revista da ESPM

SOCIEDADE REVISTA DA ESPM | JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇODE 2018 38 e a transcendência do espírito se converteu em expli- citude obscena. Naeradas redes sociais, o indivíduoseencontraencap- suladoemmultidões queoespelhameo reafirmaminin- terruptamente. Aqui está outra característica decisiva dessa nova realidade habitada por avatares : as multi- dões de iguais, as multidões especulares, as multidões de mesmos. Vêm daí as tais “bolhas” das redes sociais, cujo traço definidor é a impermeabilidade ao dissenso. Uma comunidade de uma determinada bolhamal toma conhecimentodaoutra. Nãodevíamosnos espantar com o fracasso da imprensa e dos institutos de pesquisa nos Estados Unidos emter demorado tanto a se dar conta de que a onda que elegeria Donald Trump tinha densidade e consistência demográfica. Imprensa e pesquisadores demorarama ver o óbvio porque, simplesmente, a onda que elegeu Trump estava na outra bolha. Os algoritmos das redes sociais, quer dizer, os algorit- mos que as governam, estimulame fortificamas bolhas, espessando as muralhas que as separam — com a agra- vante de que esses algoritmos são fechados emcódigos proprietários, de tal maneira que os sistemas que regu- lamna prática o fluxo de informações na esfera pública não são públicos e nem são passíveis de regulação pela administração pública. A rede tecnológica por onde tra- fegamas informações, que deveria ser neutra, não o é (e agora, comas novidades que se anunciamna regulação americana, serão ainda menos neutras). O que eu estou querendo dizer é, em pouquíssimas palavras, que as redes sociais mais segregam do que integram a sociedade. Elas não põem as pessoas em rede — elas põem, isto sim, as muralhas em rede, mura- lhas privatizadas, muralhas que separam a humani- dade em bolhas. Dentro das muralhas, o que impulsiona a circula- ção dos relatos é a dinâmica própria dos boatos, bas- tante passional, e nãomais a dinâmica de prestação de serviços de informação de interesse público, segundo pontos de vista plurais. A função pública de mediar o debate social, de investigar e relatar os acontecimen- tos de interesse geral com fidedignidade e de fazer cir- cular ideias e opiniões divergentes, função essa que se fixou como o papel central da instituição da imprensa, corresponde hoje apenas a uma franjamarginal dentro das interações da era digital. Agora, os protocolos clas- sicamente observados pela imprensa e pelas redações profissionais se confinama ilhotas que sãominúsculas quando comparadas ao todo. A palavra minúscula não é força de expressão. Ou fraqueza de dimensão. Pense bem: o que é a carteira de assinantes de um jornal, algo em torno dos 250 mil leitores, como no caso dos maiores diários do Brasil, perto da escala de um Facebook, que tem 2 bilhões de usuários com perfis ativos, o que corresponde a algo como um terço da humanidade? — como aponta amaté- ria Facebook registra salto no lucro 71% no 2º trimestre de 2017 , publicada no portal G1, no dia 27 de julho do ano passado. As práticas comunicacionais adotadas nas redes sociais, que não se pautam pela verificação criteriosa dos fatos ou pelos critérios de veracidade e de pluralidade, soterram e comprimem as ilhotas que observamos protocolos clássicos da imprensa. Diante de tal cenário,o jornal Folha de S.Paulo tomou a deci- são de não mais atualizar o conteúdo de sua fan page no Facebook, a partir do dia 8 de fevereiro. Para concluir, aindame falta lembrar que são perver- sas as relações de propriedade das novíssimas empre- sas ditas “de tecnologia” ou de “inovação”, como Goo- gle e Facebook. Essas duas são monopólios globais. Podemos vê-las, também, como um duopólio mundial que controla a maior parcela do tráfego das pessoas comuns na internet. Essas empresas registram taxas de crescimento de tirar o fôlego do diretor comercial de qualquer diário brasileiro. Cito dados recentes, que talvez não sejam os mais recentes at all .Mesmo assim, ainda são válidos. Segundo o ranking da Interbrand, Google é a segundamarcamais valiosa domundo, comseupreço estimado emUS$141,7 bilhõesemsetembrode2017.Naprimeiracolocaçãoestáa Apple,avaliadaemR$184,154bilhões,comoapontamaté- ria publicada no jornal Valor Econômico , de 25 de outubro de2017.Outrareportagem,publicadaemnovembrodoano passadono Valor Econômico , aponta que o valor daApple — e não apenas a marca Apple — alcançou o patamar de Os100milhõesdebrasileirosquemantêm umperfilpessoalnamaiorredesocial doplanetatratamosoutros,osqueestão defora,comardeespanto

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