Revista da ESPM

JULHO/AGOSTO/SETEMBRODE 2018| REVISTADAESPM 13 “Vira-lata, semcoleira e sempatrão” Por Arnaldo Comin Foto: Renato Parada E m momentos de crise moral e econômica, como os que estamos passando agora, ressurge com força nosso ancestral sentimento de inferioridade em relação às ricas nações de cultura anglo-saxã e norte-europeias. O famoso “complexo de vira-lata”, termo tão brilhantemente cunhado pelo cronista Nélson Rodrigues às vésperas da Copa do Mundo de 1958, volta a assombrar como um fantasmagórico 7 a 1 a alma brasileira. Leitor atento e admirador do escritor pernambucano, o economista Eduardo Giannetti da Fonseca só não se conforma com o fato de essa designação ser encarada como um “com- plexo”. “Não há nada de errado emser vira-lata. O vira-lata temhorror à ideia de pureza, raça pura, razão pura, àmétrica do sucesso econômico. Isso é o que faz do brasileiro fruto de uma cultura tão única”, afirma. Voltando ao tema 70 anos depois, Giannetti lançou emmaio, pela Companhia das Letras, seumais recente livro, O elogio do vira-lata , que traz dois artigos iné- ditos — umdeles leva o título da capa — e uma seleção de 23 textos publicados emmais de 20 anos de colaborações emdiversos veículos acadêmicos e da grande imprensa. No conjunto da obra, o autor aborda como tema principal a essência da nação brasileira em sua condição única de influência afro-luso-ameríndia, discutindo ummodelo mais au- têntico e coerente de desenvolvimento. Não seria, de forma alguma, uma tentativa frustra- da de copiar o padrão tecnoconsumista e impessoal dos americanos. Na entrevista a seguir, Giannetti ressalta os aspectos positivos da cultura brasileira e defende uma visão de país voltada para o desenvolvimento humano. “O futuro do Bra- sil, em última instância, vai ser decidido não nas reuniões do Copom, nas decisões do BNDES ou nas profundezas do pré-sal. Vai ser decidido nas milhares de salas de aula espalhadas pelo país.” Tudo isso semperder o espírito único e livre do brasileiro. Ou como dizia umsamba que fez sucesso na voz de CarmemMiranda em1937: “Eu gosto de cachor- ro vagabundo, que anda sozinho no mundo sem coleira e sempatrão”.

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