Revista da ESPM

JULHO/AGOSTO/SETEMBRODE 2018| REVISTADAESPM 15 encontrar a nossa própria métrica de sucesso, os valores que nos refle- tem, sem nos imaginar como cópia ruim de um modelo em que somos medíocres, modelo da tecnologia do sucesso material, calcado na ciên- cia e na tecnologia. Revista da ESPM — Por outro lado, nós, brasileiros, temos dificuldade de entender essa independência preco- nizada pela figura do vira-lata. Não valorizamos essa cultura tão única e costumamos nos enxergar de maneira inferior em relação à ética anglo-saxã e europeia de uma maneira geral. Um dia seremos capazes de nos aceitar como somos de maneira positiva? Giannetti — Essa independência precisa de capacitação, de educação, e isso faz falta. Por exemplo, o empre- endedorismo não traduz o potencial que existe, porque as pessoas não têm acesso a bens primários, come- çando por saneamento básico. Me- tade da população não tem acesso a água e esgoto, mas tambémhá falhas no campo da educação. Falta trans- formar essa vitalidade em algo profí- cuo e isso depende da capacidade no campo cognitivo e emocional. Essa é a nossa fragilidade civilizatória. Mas isso é algo que pode ser transforma- do por ação humana. A vitalidade, da qual somos portadores, não é algo que possa ser criado por vontade. Ou se é portadora dela ou não. Revista da ESPM — Como econo- mista de origem, o senhor fala da riqueza das nações em alguns artigos do novo livro. Que modelo econômico uma civilização vira-lata como a nos- sa deveria perseguir, sendo próspera e justa, sem perder a essência? Giannetti — Obter o nível de consu- mo e de renda dos paísesmais desen- volvidos não estaria no nosso DNA ético. Não faz parte de nós aspirar a essa corrida consumista. Todos os estudos empíricos entre economia e felicidade são unânimes em afir- mar que, a partir de certo nível de renda, o acréscimo não se traduz em ganhos de felicidade subjetiva. Isso é uma boa notícia. Ou seja, nós não precisamos de níveis de renda, como os Estados Unidos, Alemanha e Japão, para alcançar níveis altos de felicidade humana. É uma boa notícia para quem se preocupa com o meio ambiente. Se o mundo inteiro precisasse disso, estaríamos perdi- dos. Agora, nós devemos preservar o momento de disponibilidade para viver essa liberdade. Revista da ESPM — Como exercer essa liberdade? Giannetti — Temos de celebrar e aperfeiçoar o campo do relacio- namento humano. O que ma is diferencia o Brasil ante o mundo é a qualidade e intensidade das relações pessoais. Gosto de uma passagem de Sérgio Buarque de Holanda, que comenta a respeito de um americano que veio ao Brasil e ficou assustado quando soube que aqui, para buscar um sócio de ne- gócio, é preciso antes ter amizade com a pessoa. O americano achava isso completamente inadequado. Eu acho isso o máximo. O Brasil co- loca em primeiro lugar as pessoas, não as relações anônimas, impes- soais. O Brasil exige afeto. Isso é muito bom. Devemos imaginar que isso não nos atrapalha. Isso é algo que alemães e outros povos não têm ou têm pouco. Nós não vamos nos desenvolver em nome de um modelo que nos levará a nada. divulgação OBrasil viveuumquadrodeeuforianosegundogovernoLula: 40milhõesde brasileiros foramincorporadosàclassemédia, oBrasil foi escolhidoparasededos JogosOlímpicosedaCopadoMundode futebol ehouveadescobertadopré-sal

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx