Revista da ESPM
JULHO/AGOSTO/SETEMBRODE 2018| REVISTADAESPM 21 público. Esse número é muito sério. A carga tributária, 30% do PIB, é extremamente elevada para o país de renda média, fora um déficit de 6% a 7% além da arrecadação. Portanto, 40% do valor criado pelo povo brasi leiro é intermediado pelo Estado. Nós estamos no século 21 com um Estado deste tamanho e quase a metade dos domicílios não tem saneamento básico. Como isso é possível? 40% da renda nacional é drenada da sociedade, passa pelo setor público e não retorna em políticas públicas minimamente satisfatórias em saneamento, em segurança, em transporte, em edu- cação. Esse é, hoje, o grande proble- ma da vida brasileira, no curto pra- zo. Existe uma disfuncionalidade das escolhas dentro do âmbito do volume de dinheiro que transita no setor público. Revista da ESPM — E quais são as questões de fundo que precisamos enfrentar? Giannetti — No longo prazo, o que vem decidir o futuro do Brasil é a educação e o meio ambiente. Eu gostaria que o brasileiro colocasse a educação e o meio ambiente no cen- tro de suas preocupações políticas. Nós temos um patrimônio natural incomparável e precisamos usar, de forma sustentável, a imensa rique- za de recursos naturais do país. Em última instância, o futuro do Brasil vai ser decidido não nas reuniões do Copom, nas decisões do BNDES ou nas profundezas do pré-sal. Vai ser decidido nos milhares de salas de aula espalhadas pelo país. É ali que será decidido o que seremos daqui para frente. Revista da ESPM — Saber explorar suas vocações é uma maneira de dar foco e orientar o desenvolvimento. Assim como alemães e nórdicos são reconhecidos por sua engenharia, os americanos pela capacidade de fazer negócios e os japoneses em processos industriais e robótica, por exemplo. Considerando nosso meio ambiente, a biotecnologia e as ciências da vida não seriam um caminho natural para o Brasil? Giannetti — Formação de conhe- cimento para tirarmos o melhor proveito sustent áve l do nosso patrimônio ambiental. Você toca num ponto nevrálgico, que é esse encontro entre educação e meio ambiente. Agora, não sacrifican- do tudo em nome do crescimento a qualquer preço. A grande preo- cupação brasileira é a de posicio- nar o econômico no seu devido lu- gar. Ele é secundário. O problema do econômico é que a economia, como a saúde, tem o péssimo há- bito de tiranizar os que abusam dela. O governo Dilma, por exem- plo, abusou em tal ordem da lógi- ca econômica, que estamos tira- nizados. E vamos ter de enfrentar esse problema. A estabilidade ma- croeconômica não é um fim em si mesmo. É uma pré-condição para que possamos avança r nessas condições fundamentais no longo prazo. Queremos um país que se reconcilie com aquilo que ele é. A maturidade de uma cultura é a tranquilidade de ser suficiente. O Brasil não é uma cópia desastrada e canhestra do tecnoconsumismo ocidenta l. O Brasi l é promessa de or ig i na l idade de expressão cultural. E nós, brasileiros, somos o anacronismo dessa promessa chamada Brasil. OBrasil precisa celebrar e aperfeiçoar o campo do relacionamentohumano. Oquemais diferencia o povo brasileiro ante omundo é a qualidade e a intensidade das relações pessoais a . ricardo / shutterstock . com
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx