Revista da ESPM

SOCIEDADE REVISTA DA ESPM | JULHO/AGOSTO/SETEMBRODE 2018 30 A falência daDemocracia e a 4ª Revolução Industrial afetarão de maneira irreversível a sobrevivência da espécie dita racional sobre o planeta conducente ao bemcomum, para converter-se emnorma episódica, produzida por uma espécie de nova configu- ração feudal. O Parlamento é um coletivo heterogêneo de representantes de setores que ali sustentam teses de interesse direto de tais segmentos. Nemsempre coinci- dentes com o bem comum. É também por isso que à abundância normativa não corresponde a fiel observância à lei. Estamos na República em que existem “leis que pegam” e “leis que não pegam”. Mas o defeito maior está na paulatina desvincula- ção entre lei e ética. A lei ideal seria o “mínimo ético” da teoria do jurista Georg Jellinek. Ética é a ciência do comportamento moral do homem em sociedade. Moral é seu objeto, embora haja muitos pensadores que têm os dois verbetes por intercambiáveis e se sirvam, aleatoriamente, de ambos para falar sobre a mesma realidade. Ética é hoje a matéria-prima da qual o Brasil mais se ressente. É tamanha a desfaçatez comque homens públi- cos invocam ética em seu discurso e agem de maneira antípoda a seus comandos, que a população se tornou descrente da Democracia Representativa. Ninguém se sente representado. A regra é o representante servir a seus próprios interesses e se olvidar de que é mandatá- rio e que deve prestar contas ao mandante. Sob essa vertente, a corrupção impregnou as entra- nhas da República. Nos três níveis da Federação, todos os dias há uma prolífica produçãode péssimos exemplos. Conspurcar os mandatos não é apenas locupletar-se à custa do povo, senão entregar cargos e funções, ainda que subalternas, a quem não ostenta higidez ética em seu passado. Trai o representado quem o não ausculta continuamente. Quem age como se o mandato o libe- rasse de atender ao bem comum e o habilitasse a enve- redar por outras vias, ainda que aparentemente lícitas, mas a tangenciar a estritamoralidade, trai o eleitor, trai o sistema político-partidário e trai a nação. O cenário de terra dizimada em termos de confiança na Democracia Representativa é o que aguarda quem vier a ser eleito em 2018. Pensadores sensíveis já detectaram sintomas dessa angustiante situação que só não é crise porque é crô- nica e permanente e alertaram a lucidez nacional. Sér- gio Abranches, por exemplo, elenca três razões para o profundo mal-estar da humanidade, que atinge de maneiramuito peculiar esta República heterogênea que é o Brasil: a ameaça do aquecimento global, evidente- mente resultante da inclemência, da insensibilidade e da ignorância da humanidade; a falência daDemocracia Representativa; e a mutação que a 4ª Revolução Indus- trial já causou, continua a causar e afetará de maneira irreversível a sobrevivência da espécie dita racional sobre o planeta. Nenhuma dessas angústias está contempladana plati- tudedasmesmicesmedíocresdapré-campanha eleitoral. O Brasil já está sofrendo as consequências das mudan- ças climáticas, entretanto regride, aceleradamente, em termos de tutela ecológica. De nação que contribuiu para a elaboração do con- ceito de sustentabilidade, com a participação de Paulo Nogueira Neto na redação do Relatório Brundtland , na década de 1980, para a audaciosa e bela dicção do artigo 225 daConstituição da República e a Rio 92, coma “grife” Marina da Silva, o retrocesso a partir de então foi evi- dente. Basta dizer que a revogação do Código Florestal produziu uma norma substitutiva que sequer contém a expressão “Código Florestal” em seu texto. A concessão a uma visão retrógrada e reducionista de agronegócio sacrifica o patrimônio natural que poderia gerar crescentes dividendos para umBrasil que soubesse preservar suas florestas e proteger sua biodiversidade. A Democracia Representativa a ninguém mais con- vence.Onúmerodeeleitoresqueseconfessamdescrentes é a cada diamaior. Todos têmnoção de que os partidos se equivalemnas suas práticas deletérias. Eque apenas ser- vemparaseustitulareseparaprofissionalizarumaatuação quedeveria sermeritória, pois voltadaaoserviçode todos. A 4ª Revolução Industrial é a primeira em que a inte- ligência humana corre o risco de vir a ser superada pela inteligência artificial. Mas a educação continua a ser um verbete inserto na falácia retórica, não umcompromisso a ser encarado como o maior desafio da nacionalidade.

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