Revista da ESPM
JULHO/AGOSTO/SETEMBRODE 2018| REVISTADAESPM 41 de uma liderança, seja no Congresso, seja no Executivo, que será legitimada pela eleição. Tenho convicção de que a reforma da previdência será feita no início do novo governo. Existe até uma perspectiva de quemesmo nesse interregno, entre a votação e o fim do ano, a reforma seja votada. Revista da ESPM — Infelizmente, este não é o único fator que prejudica o cres- cimento do país. Fábio — Não, mas essa aprovação vai dar para a sociedade um alívio ao mostrar que os problemas de longo prazo estão sendo equacionados e, para a economia, a perspectiva de que não teremos grandes bombas ao longo do caminho. Até porque a bomba da previdência é preocupante, porque vem em doses homeopáticas, como o corte no orçamento dos inves- timentos para menos de 1% do PIB e o atraso no pagamento dos salários dos funcionários públicos do Rio de Janeiro. O mesmo acontece no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais, porque os gastos com a previdência são mandatórios e vão tomando lugar de outros gastos. É um processo irre- versível e matematicamente inviável, caso as regras não sejam alteradas. Todas as projeções mostram que em breve o país não terá dinheiro nem para fazer investimentos — o que já ocorre —, nempara cumprir suas obri- gações com educação, saúde e servi- ços públicos. Está chegando a hora das consequências e já está doendo o suficiente para que medidas sejam tomadas. Além disso, sabemos que parlamentares em início de mandato, convencidos como estão pelos fatos que lhes foram apresentados sobre a crise fiscal que se avizinha caso não façamos nada, certamente votarão a favor de uma reforma. Revista da ESPM — Temos também os problemas estruturais, que englo- bam três questões fundamentais: edu- cação, valores e distribuição de renda. Trata-se de medidas de longo prazo que não resolveriam a crise atual, mas precisam ser encaradas. Como solu- cionar essa equação? Fábio — Além das reformas tributá- ria e fiscal, costumo dizer que o Bra- sil precisa de uma reforma de valo- res, que não necessita do Congresso para ser posta em prática. Basta cada cidadão fazer a coisa certa no dia a dia. Como Eduardo Giannetti descre- ve em seu livro O elogio do vira-lata e outros ensaios (Editora Companhia das Letras, 2018), nós somos uma sociedade que tolera e comete peque- nos delitos numa extensão prejudi- cial a toda população. Porém, o povo habituou-se a apontar para Brasília, como se o problema residisse apenas lá e nós fossemos uma sociedade de vestais governada por corruptos. O problema está no dia a dia de todo o brasileiro: nos “gatos” de TV a cabo e eletricidade; na compra de DVDs piratas; na sonegação de impostos; no ato de esperteza em eliminar a pontuação da carteira de habilitação; no ato de corromper o poder público para tirar vantagem para a sua em- presa. É preciso lembrar que o lado corrompido só existe porque existe o lado que o corrompe. Sim, nós temos problemas com políticos. Mas a par- cela que cabe à população na questão de valores sociais muitas vezes é dei- xada de lado. Diante desse cenário, shutterstock . com Hoje, umemcada dez brasileiros temmais de 60 anos. Em2060, esse número passará a ser umemcada três. Nossomaior problema no curto prazo é fácil de ser equacionável, só que politicamente complicado
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