Revista da ESPM

JULHO/AGOSTO/SETEMBRODE 2018| REVISTADAESPM 43 Revista da ESPM — Em sua opinião, os jovens de hoje têm força suficiente para mudar o panorama atual da polí- tica nacional? Fábio — Eles são muito mais bem formados e informados. Muitos deles estão querendo entrar para política porque acreditamemumpaísmelhor. O partido Novo é um bom exemplo desse movimento. A minha geração dividia as coisas: o governo ficava de um lado, enquanto a iniciativa priva- da ficava do outro. Mas no Brasil essa divisão não funcionou. Agora, vejo a sociedade cada vez mais mobilizada para reverter essa história. Além dis- so, é crescente o número de empresas adotando escolas, fazendo parceria com governo e lançando instituições para melhorar a qualidade da educa- çãono país, assimcomo omovimento Todos pela Educação. Os empresários já entenderam que esta não é uma função exclusiva do Estado, e sim de toda a sociedade, com o setor público e a iniciativa privada mobilizados para aquilo que mais importa: a in- clusão social. Emummundo cada vez mais digital, a não inclusão de parte da sociedade na questão da educa- ção vai acabar marginalizando uma parcela ainda maior da já marginali- zada sociedade brasileira. Este é um projeto de longo prazo, que vejo com bons olhos, porque existe dinheiro, infraestrutura e tecnologia disponí- vel para acelerar o aprendizado e o preparo de nossos jovens. Revista da ESPM — Falemos agora do problema social do desemprego. Existem 13 milhões de desempre- gados e um número equivalente de pessoas que trabalham menos do que gostariam. O futuro poderá ser ainda pior com as consequências da Revolução 4.0. Como enfrentar este problema? Fábio — Eu sou extremamente oti- mista com a revolução tecnológica que está acontecendo, pois teremos um mundo melhor, com mais aces- so à educação, à saúde e à infor- mação, uma melhor alimentação, custos mais baixos e energia mais barata. Não atribuo de maneira al- guma o desemprego de 13 milhões de pessoas a qualquer evolução tec- nológica, até porque ela ainda é mui- to pequena no Brasil. Isso se deve a um desarranjo nas contas públicas, à inflação elevada que determinou uma política restritiva e fez com que a economia andasse para trás quase 4%. Mas é verdade que, olhando para frente, quanto maior for o gap de educação, maior vai ser o pro- blema da “trabalhabilidade”. Agora, precisamos nos preparar para tirar proveito da potencialidade que a revolução digital trará para todos. Por outro lado, estamos vendo inú- meras alternativas produzidas por jovens, que começam a empreender cada vez mais cedo, porque a barrei- ra de entrada para se ter uma empre- sa no Brasil hoje é menor do que no passado. O custo de entrada é baixo, diferentemente da era industrial, onde você precisava ter capital para investir em equipamentos caros. Meu otimismo com relação à revo- lução digital é também enorme na questão da transparência. Revista da ESPM — De que forma essa transparência, que tem trazido à tona escândalos de políticos e empre- sários envolvidos em casos de corrup- ção, ajuda a aprimorar os valores da sociedade brasileira? Fábio — A tecnologia melhora a questão de valores na medida em que acende a luz e mostra os fatos como realmente são e não como alguns gostariam que fossem perce- bidos. Eu tenho orgulho de ser brasi- leiro ao ver a exposição de casos que acontecem há décadas e eram var- ridos para debaixo do tapete. Não é para termos vergonha do que está acontecendo no país, e sim orgulho, porque a Lava Jato está pondo o país nos eixos. Aliás, delitos e desvios por parte de políticos e da socieda- de em geral acontecem em vários países. Então, nada de ficar falando que isso só existe no Brasil. Passar o país a limpo não significa que vamos eliminar a corrupção, mas minimizar e punir todo caso identi- ficado. O problema é que a Lava Jato jogou uma nuvem de poeira na visão das pessoas sobre os problemas econômicos e passou-se a achar que todos os males do Brasil se devem à corrupção. Como consequência des- se pensamento, quando falamos em reforma da previdência, as pessoas acham que estão tendo de pagar a conta daqueles que roubaram. O que não é verdade. Afinal, para que serve o Estado? Para que todo cidadão tenha a oportunidade de lutar por uma vida digna. Hoje, nossa sociedade, por intermédio do Estado, sofre terrivelmente neste aspecto

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