Revista da ESPM
ENTREVISTA | FÁBIO COLLETTI BARBOSA REVISTA DA ESPM | JULHO/AGOSTO/SETEMBRODE 2018 44 Revista da ESPM — E como é possível dissipar essa nuvem de poeira? Fábio —Nada como o tempo paramos- trar que o problema do Brasil é muito maior do que a corrupção. Este ano já temos um déficit de R$ 140 bilhões, que representa muito mais do que o montante desviado pela corrupção emdez anos. Daí a importância de de- finirmos que tipo de liderança — tanto no poder Executivo quanto no Legis- lativo — vamos escolher para o país. Infelizmente, nós ainda não conse- guimos conscientizar a população em relação à eleição do Legislativo, razão pela qual precisamos fazer também a reforma política. Em1850, o então pri- meiro-ministro inglês, John Russell, proferiu a seguinte frase: “Se vamos universalizar o voto, comecemos por educar o nosso povo”. Esta é a solução para muitos dos problemas do Brasil. É muito difícil conectar situações complexas da administração de uma sociedade como nível de educação do nosso povo. De um lado, você tem a questão tributária e a inserção do país numa economia mundial. Do outro, você tem um nível de educação que está muito aquém da compreensão desses problemas. Por isso, temos eleições legislativas e precisamos ter no Congresso pessoas preparadas para discutir esses assuntos, que en- tendamos problemas e anseios da co- munidade a qual representam. Hoje, temos uma desconexão entre o que acontece na sociedade e o que se pas- sa em Brasília, porque a maioria dos brasileiros não sabe em quem votou na última eleição e o político não se sente representando aquilo que você espera dele. O voto distrital resolveria esse problema. Revista da ESPM — Existe uma lista de tarefas primordiais a serem cumpri- das para o país retomar o crescimento. Como deveriam ser os primeiros cem dias do próximo governo? Fábio — A primeira providência é aprovar a reforma da previdência e mostrar que existe um compromisso com a estabilidade fiscal, um norte importante para atrair investimen- tos. Espero também que o novo go- verno faça a reforma política, que dará um embasamento estruturante para podermos ter umCongresso que represente melhor a sociedade. Um terceiro ponto é aproximar o Estado do setor privado, conduzir o processo de reforma tributária e deixar que as empresas façam aquilo que o governo não consegue fazer. O governo não precisa, por exemplo, estar envolvido com a produção de energia ou a cons- trução de estradas. Afinal, para que serve o Estado? Para que todo cidadão tenha a oportunidade de lutar por uma vida digna. Hoje, nossa socieda- de, por intermédio do Estado, sofre terrivelmente neste aspecto. Revista da ESPM — O Brasil nunca teve uma quantidade tão grande de pos- síveis candidatos à presidência da Repú- blica há poucos meses da eleição. O que seriamelhor para o país nestemomento? Fábio — Precisamos de um Estado que pavimente o caminho para que o setor privado estimule a economia a criar possibilidades de acesso à população, visando à construção de uma sociedade melhor. Neste ponto, a orientação econômica de direita tem mais condições de cumprir essa missão. Sou a favor dos partidos com uma visão liberal na condução da eco- nomia e não daqueles que utilizam uma visão intervencionista como caminho para atingir tal objetivo. Revista da ESPM — Falemos agora do papel do Brasil no mundo. Há indí- cios claros de que estamos perdendo a importância política e econômica em escalas sem precedentes. O que o próximo presidente deveria fazer para ganhar mais peso político e aumentar o comércio externo? Fábio — O Brasil está andando aquém do que anda o mundo, por isso esta- mos perdendo cada vez mais espaço. De 2013 a 2016, o país andou 8% para trás. Se nesses quatro anos o Brasil tivesse crescido meros 1,5%, cresci- mento até abaixo da média mundial, teríamos hoje R$ 1 trilhão a mais no PIB. O custo de oportunidade por não termos crescido nesses quatro anos versus o que aconteceu na economia mundial representa quase 15% da nossa economia atual. Isso é uma brutalidade. Perdemos espaço porque erramos em algumas decisões, que estão sendo corrigidas agora. Em relação ao comércio exterior, a parti- cipação do Brasil mudou pouca coisa: era 3% no governo FHC e hoje está Oque precisamos é de uma reforma tributária que estimule essa integração e umestado de direito, comregras previsíveis e respeitadas, o que hoje está difícil de acontecer por aqui
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