Revista da ESPM

JULHO/AGOSTO/SETEMBRODE 2018| REVISTADAESPM 59 mais aguerridos emais competentes na “economia polí- tica da reforma”. Tão simples quanto isso. Os bons professores têm a ganhar com reformas efi- cazes. Afinal, querem uma educação melhor para seus alunos, facilitada pelasmudanças exigidas. Mas, politi- camente, tendema ser passivos, desorganizados e pouco afeitos ao ativismo. Há uma grande massa de professores mais ou menos indiferentes. Até que gostariam de algumas mudanças. Masnão semobilizam, contraoua favor. E há os sindicatos, somados a um movimento mais difuso e associado à esquerda. Incluem-se nesse grupo antirreforma os professores mais fracos ou pouco dis- postos a um esforço maior nas suas tarefas. Este lado está longe de ser maioria, mas seu ativismo político e sua capacidade demobilização tendema ser totalmente desproporcionais ao seu número. Na prática, têm uma enorme capacidade de bloquear quaisquer mudanças. Sua agenda positiva é puramente centrada no aumento linear de salários. São contra ameritocracia e combatem acriaçãodevantagensparaquemobtémmais resultados. Avaliação é anátema. E se for para avaliar professores, a reação é ainda mais furiosa. “Produtividade” e “efici- ência” são termos malditos. Ao longo dos anos, esta equação permanece equili- brada, favorecendo o status quo . Politicamente, os gru- pos pró-mudança são anêmicos. Sem que se mudem os pesos da equação, nada vai acontecer. Para que ocorram reformas eficazes, outros atores precisam entrar em cena. A grande imprensa tem se revelado como aliada das mudanças. Os melhores jornais e revistas aperfeiçoam a sua cobertura e apoiammudanças nas boas direções. Mas, como vemos, seu poder é limitado, pois não con- seguemmobilizar segmentos relevantes da sociedade. Os dois maiores interessados, paradoxalmente, per- manecemsilenciosos. Nada fazemos pais que deveriam brigar por uma educação melhor. Acima de tudo, isso ocorre porque acham boa a que é oferecida aos seus filhos (pesquisas mostram 70% deles contentes com as escolas). Assim sendo, por que brigar? Os empresários são abastecidos commão de obra pes- simamentepreparada. Por quepermanecemsilenciosos? Mudamas alíquotas dos impostos e se põembravos. Per- manece péssima a educação e nada fazem. Nesse quadro nãomuito lisonjeiro, as iniciativas bem- -sucedidasacabampordependerdacapacidade, liderança e iniciativa dos dirigentes. As transformações observa- das têmpor trás pessoasmuito bem identificadas. Minas passou de décimo para os primeiros lugares, na década de 1990. Tocantins deu um salto espantoso, mas durou pouco, pois a responsável foi para outro canto. Ceará vem surpreendendo. Espírito Santo está no mesmo caminho. Pernambuco consertou suas escolasmédias. Todas estas transformações estão intimamente asso- ciadas anomes, quase todos bemconhecidos. Émarcado nosso atraso na educação dependermos tão fatalmente de líderes iluminados e lutadores. Mas, por enquanto, é o que podemos esperar. Quem serão eles, após as próximas eleições? Claudio de Moura Castro Especialista em educação, lecionou na Universidade de Chicago, na Universidade de Genebra e na Universidade da Borgonha. Foi diretor geral da Capes, secretário executivo do Centro Nacional de Recursos Humanos e técnico do Ipea. Tem 50 livros e mais de 300 artigos publicados Bill Gates eMark Zuckerberg saíramdeHarvard semcursar disciplinas técnicas. Steve Jobs tinha perfil semelhante. Coma cabeça feita, aprende-se o que vai chegando gualtiero boffi / shutterstock . com

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