Revista da ESPM
AGRONEGÓCIO REVISTA DA ESPM | JULHO/AGOSTO/SETEMBRODE 2018 62 É uma inédita demanda que vemde fora para dentro. E, naturalmente, não são valores que interessam aos nossos concorrentes, sempre preocupados em criar mecanismos de proteção aos seus produtores rurais que inibamnosso avanço nos mercados. Mas não deve- mos dar as costas para esse desafio. Afinal, o mundo sinaliza que podemos ser os campeões mundiais da segurança alimentar e, por conseguinte, campeões mundiais da paz. E isso trará empregos, renda e riqueza para os brasileiros. Em relação ao aspecto tecnológico, temos feito um trabalhomuito vigoroso. Desde o Plano Collor até hoje, por exemplo, a área plantada com grãos no Brasil cres- ceu 62%. Já a produção de grãos aumentou 302%, quase cinco vezes mais do que a área cresceu. Se estes dados já são notáveis, há por trás deles outro ainda mais relevante: se tivéssemos hoje a mesma produtividade por hectare que tínhamos em 1990, ano do tal plano, seriam necessários mais 91 milhões de hectares para colhermos a safra de grãos de 2018. Em outras pala- vras, estes 91 milhões de hectares não precisaram ser desmatados: milhões de hectares de cerrados, flores- tas e outros biomas foram preservados. Não se trata de uma promessa ou de um sonho ambientalista: foi feito de fato, mostrando que a tecnologia aqui gerada é preservacionista e sustentável. Números semelhantes são observados emoutras cul- turas, como cana-de-açúcar, frutas, olerícolas, e sobre- tudo na produção de carnes. No mesmo período anali- sado, a produção de carne de frango cresceu 462% e a de suínos outros 255%. Mesmo em relação à carne bovina, cujo ciclo é muito mais longo, crescemos 89% e segui- mos avançando. A grande importância desses avanços tecnológicos é a redução do preço dos alimentos. Com maior produtividade, aumentou a oferta e o preço caiu: nos últimos 50 anos, a participação da cesta básica no consumo da renda familiar baixou de 55% para 15%, beneficiando sobretudo as populações mais pobres, que gastam menos do seu orçamento com alimentos, sobrando mais recursos para outras necessidades. E novas tecnologias vêm surgindo com grande rapi- dez, como o “plantio direto”, método de produção em que não se praticammais a aração e a gradeação do solo, o que evita evaporação da água retida, alémde impedir a lixiviação dos fertilizantes aplicados. O revolucioná- riomodelo de integração lavoura/pecuária/floresta vem crescendo de forma impressionante no país. Por esse processo, o produtor chega a fazer três explorações na mesma terra num único ano agrícola: pode semear a soja no verão e no inverno planta milho, trigo ou sorgo junto comsementes de pastos. Quando colhe estes grãos, tem uma pastagem verde e nutritiva em regiões onde a seca já acabou com pastos bons. E agora já se começa a produzir madeira entre as áreas de grãos/pastos. A agroenergia reduz enormemente a emissão de gases de efeito estufa (o etanol emite apenas 11% do CO 2 emitido pela gasolina), ajudando o Brasil a cumprir seus com- promissos assumidos na COP 21, de Paris. Quanto à terra utilizada, os números que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) apre- senta são impressionantes. Atualmente, dos 850 milhões de hectares do nosso território, apenas 9% são ocupados com todas as lavouras plantadas no Brasil, inclusive as culturas florestais. Outros 13,2% são pas- tagens plantadas e mais 8% são pastagens naturais. A soma de todas estas áreas, que é o que todas as fazen- das produtivas ocupam, é de 30,2% do território bra- sileiro! E temmais: o país ainda tem 66,3% de seu ter- ritório coberto com vegetação nativa (aqui incluídos os 8% de pastos naturais), sendo que 20,5% correspon- dem a áreas preservadas nos imóveis rurais privados. É bem verdade que as leis atuais impedem o uso da maior parte dessas terras: quase 13% pertencem aos índios, existem os parques nacionais, estaduais, municipais e até privados. Há ainda terras para qui- lombolas e todas as áreas de preservação permanente e reservas legais previstas pelo Código Florestal. Mas é possível fazer desmatamento legal. Com isso e com a transformação de pastagens em terras agricultadas, ainda podem ser acrescentados perto de 15 milhões de hectares em plantações de alimentos. Por último, um tema relevante: gente. As dezenas de faculdades de ciências agrárias espalhadas por todo o Em2050 haverámais de 9,5 bilhões de habitantes na Terra. E, para alimentar a todos, será preciso aumentar a produção de comida ematé 70%
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