Revista da ESPM
JULHO/AGOSTO/SETEMBRODE 2018| REVISTADAESPM 65 depende dos fabricantes de insumos e equipamentos, além da indústria de alimentos, sem que isso signifi- que protecionismo ou subsídios que sempre distorcem a realidade: a abertura comercial deve ser prioridade. Investimentos em logística e infraestrutura são necessários, e este talvez seja o maior gargalo para o objetivo de alimentar o mundo: nossa agricultura era costeira até meados do século passado, quando avan- çou para as fronteiras do Centro-Oeste, do Nordeste e do Norte. Mas a infraestrutura não acompanhou essa mudança. Será preciso, por meio de Parcerias Públi- co-Privadas, cuidar de armazenagem, de rodovias, ferrovias, hidrovias e de portos, sempre priorizando volumes a serem transportados, e não interesses polí- ticos regionais. A política comercial deve buscar acordos bilaterais ou até mesmo multilaterais. E nesses acordos devemos reduzir a escalada tarifária que inibe a agregaçãode valor nas commodities e matérias-primas. Precisamos de investimentos em inovação, consi- derando a imensa onda de conectividade e TI que vem chegando ao campo, além da preocupação com insu- mos cada vez mais sustentáveis. E montar efetivos mecanismos de assistência técnica e extensão rural que permitamo acesso das inovações disruptivas para todos os agropecuaristas. Devemos investir comvigor emdefesa sanitária para impedir desastres como a “Carne Fraca” e a “Operação Trapaça”, de que se aproveitamconcorrentes produtores de proteína animal. Temos de organizar uma política de renda para o campo, como fizeram os países desenvolvidos, cuja prioridade é o abastecimento das populações urbanas, que são majoritárias e cujos votos são mais relevantes. Assim, estimular (e emcertos países até proteger e sub- sidiar) a atividade rural, que é sinônimo de segurança alimentar e, portanto, de estabilidade política. Devemos modernizar e desburocratizar o crédito rural, enfatizar um seguro rural efetivo e digno, para, assim, diminuir a demanda por crédito oficial: os bancos privados terão interesse emfinanciar a atividade rural e investimentos no campo. Preços de garantia emercados futuros devem fazer parte dessa plataforma de renda. Devemos apoiar o cooperativismo, o associativismo e o sindicalismo, promovendo o pequeno produtor, sem- pre ameaçado pelas menores margens da unidade de produto. Proceder à regularização fundiária, também para assentados em programas oficiais, é basilar para que estes produtores tenham garantias a oferecer em seus empréstimos. É preciso acabar com todo tipo de violência e desrespeito às leis no campo, como as inva- sões de propriedades privadas ou públicas. Agroenergia é um tema relevante, visto que a pro- dução de etanol de milho e de biodiesel de oleaginosas interferirá no cenário alimentar. Portanto, é imperioso dar sequência ao RenovaBio, programa que dá previsibi- lidade ao setor e trará investimentos na agroindústria. Desenvolver mecanismos que reduzamperdas e des- perdícios deve ser outra prioridade. Segundo estudos sérios, no caso de hortifrúti, as perdas passam de 10% da produção. Todos estes temas devem, necessariamente, conside- rar uma questão fundamental para a competitividade: a sustentabilidade, com ênfase para a preservação de recursos naturais. Mudanças climáticas e consumo de água podem ser mitigados com políticas adequadas e preservacionistas nos diferentes biomas do Brasil. Comuma estratégia que considere os temas acima e conduza à modernização de legislações obsoletas que afetam as cadeias produtivas, não há a menor dúvida de que o Brasil poderá ser o campeão mundial de segu- rança alimentar até 2030. E não só os agricultores serão os heróis desta con- quista: todos os brasileiros serão corresponsáveis, uns com maior proximidade, outros com menor par- ticipação, mas ninguém ficará de fora: todos seremos campeões mundiais da paz! Pode haver maior glória para um povo? Roberto Rodrigues Coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, embaixador especial da FAO para as cooperativas e presidente do LIDE Agronegócio Cabe aoBrasil a responsabilidade de aumentar a suaprodução agrícola em 41%até 2020para garantir a segurança global apartir dapróximadécada
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