Revista da ESPM

JULHO/AGOSTO/SETEMBRODE 2018| REVISTADAESPM 67 “Estamos emumvácuo” Por Alexandre Teixeira Foto: Divulgação O governo deMichel Temer tinha poucos meses de vida e ummenu ambicioso de reformas no que chamava de “Ponte para o futuro” quando o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros se antecipou a muitos dos seus pares e pre- viu que o Brasil entraria em um novo ciclo de crescimento. Para ele, a crise desencadeada pelo governo Dilma Rousseff estava definitivamente ficando para trás, e mesmo um adiamento da reforma da Previdência não causaria grandes estragos ao país, já que asmudanças constitucionais poderiamser feitas pelo próximo presidente. Mas dois eventos mudaram tudo. A colaboração do empresário Joesley Batista, do grupo JBS, com a Operação Lava Jato, expondo Temer numa possível tentativa de comprar o silêncio do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha. E, mais recentemente, a greve dos caminhonei- ros, que revelou o enfraquecimento político terminal deste mesmo governo. Mendonça de Barros sentiu os golpes e agora afirma que a recuperação cíclica da atividade econômica foi abortada e teme que as forças antirreformistas triunfemna eleiçãode outubro. Ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ex-ministro das Comunicações no governo de Fernando Henrique Cardoso, Mendon- ção, como é conhecido, sempre foi um dos quadros mais aguerridos do PSDB nos deba- tes sobre política econômica — e um dos mais otimistas. Não mais. Nesta entrevista, ele se admite pessimista com as perspectivas postas hoje tanto para o Brasil quanto para o seu partido. “Estou muito desanimado, porque jogamos fora uma construção de 25 anos”, comenta o economista. “O PSDB ficou para trás. Perdeu o bonde da história. Olhe para as lideranças políticas hoje (...) e compare comas que tínhamos 20 ou 30 anos atrás: Mário Covas, Fernando Henrique...” Mendonça de Barros fundou e dirigiu diversas empresas financeiras. Hoje, aos 76 anos, dá expediente em seu escritório em São Paulo, presta consultoria a empresas e faz aná- lises econômicas. Da atividade de formulação de políticas públicas, porém, se considera aposentado. “É duro, depois de 40 anos trabalhando num projeto, reconhecer que houve um fracasso”, diz. “O Brasil sempre conseguiu sair dessas armadilhas, mas isso agora é comoutra geração. Aminha geração já participou e teve sucesso emalgummomento.”

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx