Revista da ESPM
ENTREVISTA | LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS REVISTA DA ESPM | JULHO/AGOSTO/SETEMBRODE 2018 68 Revista da ESPM — Este é um ano eleitoral atípico, em que o medo vem predominando sobre a esperança. Olhando para o quadro político-eco- nômico, quais são os fatores críticos emperrando a retomada do crescimento econômico e que providências o próximo governo terá de tomar? Luiz Carlos Mendonça de Barros — A retomada a que nós assistimos no segundo semestre do ano passado e no começo deste ano é o que os econo- mistas chamam de retomada cíclica. Tivemos uma recessão profunda em 2015 e 2016. A inflação caiu. As contas externas passarama ter umsuperávit grande, devido não só à melhoria das exportações, como também à redução das importações, em função da queda de 9% do PIB naqueles dois anos. Isso abriu um espaço para uma retomada do crescimento, em respos- ta a uma política correta de gestão da economia no governo Temer. Mas aí tivemos eventos políticos que acaba- ram interrompendo essa recuperação cíclica, principalmente a denúncia da JBS [segundo a qual o presidente Temer teria tentado comprar o si- lêncio do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha], que abriu uma crise política no governo, e, mais recentemente, a greve dos cami- nhoneiros, que paralisou a economia. Esses dois eventos inesperados inter- romperam o ciclo de crescimento e, o que é pior, instabilizaram o cenário político pela fraqueza do governo e das forças políticasmais de centro-di- reita. Estamos chegando agora às vés- peras das eleições, com a economia em recessão por causa desses dois choques e pela instabilidade política criada com o enfraquecimento dos partidos que compunham a maioria do governo Temer. Revista da ESPM — Estes dois pontos que o senhor destaca, a denúncia da JBS e a greve dos caminhoneiros, são pro- blemas deste governo. Indícios de cor- rupção e fraqueza política. São questões que podemos tirar da pauta ao projetar o próximo governo, certo? Mendonça de Barros — Não, pelo contrário. O problema é que o en- fraquecimento do governo Temer e, principalmente, a volta da recessão tiraram força de todo o conjunto po- lítico que defende a continuidade das reformas econômicas, a estabilidade, e deu força novamente para a esquer- da, o que introduz uma insegurança em relação ao tipo de política econô- mica que o próximo presidente da República vai seguir, principalmente no que diz respeito às reformas. Os dois eventos inesperados, do ano pas- sado e deste ano, acabaram criando uma condição política de muita ins- tabilidade para as próximas eleições. Portanto, jogaram para frente, para o próximo mandato, uma situação de muita insegurança e instabilidade, criando uma difícil condição eleito- ral. O cenário ficoumais desafiador. Revista da ESPM — Quais lhe pare- cem ser as providências objetivas que o próximo governo vai ter de tomar para reverter este quadro complicado que estamos vivendo? Mendonça de Barros — Vai depender do perfil ideológico do próximo presi- dente da República. Temos a esquerda como discurso para a volta da política econômica da Dilma e, na direita, um discurso de continuidade à política econômica de reformas do presidente Temer. Hoje, não há quem possa fazer uma avaliação de quem vai ganhar. Por isso a instabilidade na economia. Revista da ESPM —Alguns problemas concretos terão de ser enfrentados, seja do modo que for. Temos um problema fiscal bastante explícito e que já faz al- gum tempo que precisa ser enfrentado. Mendonça de Barros — Mas a lei- tura do problema fiscal é diferente na esquerda e na direita. Não é um problema fiscal matemático que todo mundo vê da mesma forma. Os dis- cursos vão variar. Já estão variando. A reforma da Previdência que se propu- nha no governo Temer não é a refor- ma da Previdência que os candidatos de esquerda estão discutindo. Então nós voltamos à insegurança. Embora os problemas sejam conhecidos — e o fiscal é um dos maiores, assim como o do desemprego é importante —, criou-se uma situação em que não se tem certeza sobre o caminho que será seguido. Há uma diferença fun- damental de interpretação dos pro- blemas e de definição de uma agenda de solução. Isto é que criou a incerteza toda para o próximo ano. Nós não te- mos uma agenda inquestionável. Em- bora alguns pontos sejamosmesmos, Nós não temos uma agenda inquestionável. Embora alguns pontos sejam os mesmos, a leitura das causas e, principalmente, a proposição de mudança variammuito entre esquerda e direita
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