Revista da ESPM

JULHO/AGOSTO/SETEMBRODE 2018| REVISTADAESPM 69 a leitura das causas e, principalmen- te, a proposição de mudança variam muito entre esquerda e direita. Revista da ESPM — Na sua visão pessoal, quais deveriam ser as priori- dades para tirar o Brasil desta longa estagnação pós-recessão e permitir uma retomada do crescimento? Mendonça de Barros — A agenda, pelo menos na minha visão, é clara. Tema agenda fiscal e temuma agenda de retomada do crescimento cíclico, porque o Brasil ainda tem um PIB 9% menor do que tinha antes da recessão. Há condições de repor a economia em crescimento, mas, para que isso aconteça, é fundamental que as ex- pectativas dos agentes econômicos estejamalinhadas — e aí é que aparece a grande dificuldade. Hoje não existe alinhamento, porque não há um qua- dro político mais evidente em termos do perfil do próximo presidente. Revista da ESPM — Omundo mudou, o país perdeu a capacidade de investir e, no entanto, continuamos a olhar a Constituição de 1998 como fórmula mágica para resolver todos os proble- mas. O senhor concorda com isso ou seria o caso de pensarmos em uma nova Constituinte? Mendonça de Barros — A questão fiscal, que é omais grave dos entraves estruturais que temos hoje, tem mui- to a ver com a Constituição de 1988. Ela criou uma estrutura de gastos para o governo que é incompatível com a sua capacidade de arrecadação de impostos. Revista da ESPM — O que se pode fazer a respeito? Mendonça de Barros — Para uma solução mais definitiva, de longo prazo, a sociedade vai ter de discutir a estrutura de gastos dos governos federal, estaduais e municipais. A que foi estabelecida na Constituição é incompatível com a capacidade de arrecadação de impostos. Este é o grande nó górdio, mas ele só vai ser enfrentado depois que o país tiver no poder um governo com ideias muito claras. A esquerda acha que esta ques- tão da Constituição não é um empeci- lho. Voltamos sempre a uma tese que eu tenho hoje. Nós tivemos 25 anos de certo equilíbrio econômico e político com a polarização entre PSDB e PT. Isso acabou. Virou um salve-se quem puder. Não temos liderança política. Os partidos estão todos fragilizados, também pela questão da corrupção. Então, o Brasil vai viver nos próximos anos umperíodo dramático. Revista da ESPM — O que pode dar lugar a esse ciclo que parece estar se encerrando? Mendonça de Barros — Tenho cer- teza do encerramento do ciclo, mas ainda não dá para ter uma noção clara de como será reconstruído o equilí- brio político no Brasil. A questão da Lava Jato, da corrupção, tornou este momento muito difícil, porque toda a classe política está sob tensão, sem confiança, e não temos no horizonte nenhum partido ou grupo político com liderança suficiente para mudar isso. Tanto é verdade que vamos ter uma eleição extremamente polariza- da entre extremos, direita e esquerda. O equilíbrio na centro-esquerda não existemais. Revista da ESPM — Entre as pro- postas que circularam nesta fase de plopes / shutterstock . com Nós tivemos 25 anos de certo equilíbrio econômico e político com a polarização entre PSDB e PT. Isso acabou. A era Temer virou um salve-se quem puder e o país não temmais liderança política

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