Revista da ESPM

JULHO/AGOSTO/SETEMBRODE 2018| REVISTADAESPM 71 25 anos. Hoje tenho 76 anos. É duro, depois de 40 anos trabalhando num projeto, reconhecer que houve um fracasso. O Brasil sempre conseguiu sair dessas armadilhas, mas isto agora é com outra geração. A minha geração já participou e teve sucesso em algummomento. Revista da ESPM — Existiria uma forma de vencer a impopularidade das grandes reformas que serão necessá- rias para o país voltar a crescer? Há uma maneira ideal de as lideranças políticas apresentarem o problema à sociedade? Ou vai ser preciso seguir adiante na marra? Mendonça de Barros — O Plano Real é um belo exemplo. O presiden- te Fernando Henrique conseguiu explicar o problema, mostrar a im- portância da reforma monetária, e a sociedade toda aprovou. Agora é pre- ciso umprocesso semelhante. A lide- rança política vai ter de mostrar para a sociedade que fora das reformas é este nível medíocre de crescimento econômico que vamos ter. Agora é muitomais difícil porque o problema fiscal é mais difuso do que a inflação de 30% ou 40% ao mês, que era o que nós tínhamos na época. Revista da ESPM — O senhor diz que a sua geração já deu sua contribuição, e o problema agora é das gerações atuais. Só que parece haver um hiato na formação de lideranças. Olhando o cenário político, o senhor enxerga al- guém com essa capacidade de traduzir necessidades reais do país de uma ma- neira que a população entenda e apoie as reformas necessárias? Mendonça de Barros — Criou-se um vácuo, muito por causa da domi- nância do PT, do Lula com 80% de popularidade por muitos anos. Isso foi destruindo as lideranças alterna- tivas. Olhe para as lideranças políti- cas hoje — mesmo no meu partido, o PSDB — e compare com as que tínha- mos 20 ou 30 anos atrás: Mário Co- vas, Fernando Henrique Cardoso... A liderança política que existe hoje é o Lula, por um efeito de associação com um período muito favorável para as camadas mais pobres. Revista da ESPM — E os outros vários candidatos a presidente que se apresentam neste ano? Mendonça de Barros — Há radicais sem nenhuma história e sem ne- nhum partido por trás. São pessoas físicas que tentam se firmar radica- lizando as suas posições, à direita e à esquerda. Estamos em um vácuo e esta é uma das razões do meu pessimismo. Quando chegamos ao fim da ditatura, o país tinha uma classe política de alto nível. Hoje não tem mais. Quem temos de líder hoje? Olhe as pesquisas. É um grupo medíocre. Isto vai ter de ser enfren- tado, de uma forma ou de outra. Espero que, ao longo dos próximos anos, se consiga produzir uma lide- rança política que permita fazer a passagem do período de 25 anos que terminou para um novo. Revista da ESPM — O senhor não se engajou na campanha presidencial de Geraldo Alckmin? Mendonça de Barros — Não, só o meu irmão [ José Roberto Mendonça de Barros ]. O PSDB ficou para trás. Perdeu o bonde da história. Vai ter de se reconstruir como um outro tipo de partido. O governo da presidente Dilma não entendeu o ciclo econômico que vivíamos, tomou medidas completamente equivocadas e acabou gerando a recessão na qual vivemos até hoje cintia erdens paiva / shutterstock . com

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