Revista da ESPM

ENTREVISTA | LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS REVISTA DA ESPM | JULHO/AGOSTO/SETEMBRODE 2018 72 Revista da ESPM — Há quem diga que o primeiro movimento que precisa ser feito é uma reforma política, para depois se destravarem as mudanças constitucionais importantes para a agenda econômica. Faz sentido este encadeamento? Primeiro, tentar fazer uma reforma política, com o presi- dente recém-eleito, para depois tentar aprovar as reformas econômicas? Mendonça de Barros — Sim, e esta reforma política já está acertada numa agenda, que começa por re- duzir o número de partidos. Não se pode ter 30 partidos. Não existem 30 diferenças ideológicas na sociedade brasileira. Tem de se aumentar ain- da mais aquela cláusula de barreira [que limita o acesso a tempo de TV e recursos públicos para campanhas de partidos com expressividade eleitoral]. Tem de mexer numa série de regras sobre o comportamento de políticos eleitos. A Lava Jato vai fazer parte deste serviço, mas é um trabalho longo e complexo. Revista da ESPM — A ideia de um presidente recém-eleito usar seu capital político para fazer desta a sua primeira reforma parece então fazer sentido. Mendonça de Barros — Neste pon- to, o consenso dentro da classe po- lítica vai ser maior do que em outras questões. Temos de enfrentar isso, e aqui sou mais otimista. Estamos tão por baixo, tão destruídos neste sis- tema político, que alguma coisa me- lhor deve acabar sendo construída. Revista da ESPM — Tentando olhar para a inserção do Brasil no mundo, é possível dizer que, nesta última déca- da, o país se posicionou ainda mais na periferia das cadeias globais de valor. Nós vimos vários acordos bilaterais e multilaterais sendo fechados e aparen- temente não tivemos apetite para nos engajar nessas alianças. E agora? Mendonça de Barros — É a mesma questão ideológica. Nós temos um grupo grande, a esquerda toda, que acha que o Brasil tem de ser uma economia fechada. Eles hoje es- tão, de certa forma, alinhados com o presidente americano, Donald Trump, que lhes dá um discurso. Este tema faz parte do debate sobre como modernizar o país. Por outro lado, o Brasil tem casos de sucesso. A agricultura brasileira é hoje a mais eficiente do mundo, inserida em todo o planeta. Há bolsões de qualidade, mas é preciso vencer esta maldita herança do Getúlio Vargas, a economia fechada. Revista da ESPM — Vamos tentar tirar um pouco o foco da polarização e olhar para a questão de maneira mais propositiva. Como seria possível adotar agora uma política de inserção global? Mendonça de Barros — Certamen- te vamos evoluir para uma globa- lização um pouco diferente da que vimos até agora. Eu, como te falei, já estou fora desta discussão. Me aposentei. Revista da ESPM — O que seria esta globalização diferente? Mendonça de Barros — A globali- zação está associada a uma concen- tração de renda grande. Esta é uma questão que atinge o mundo todo. Vai ter de se fazer um redesenho da fórmula como a economia tem sido globalizada. Este debate começou há pouco e está na fase inicial, de análise das origens deste fenômeno. Prevejo um tempo ainda bastante longo até chegarmos a um novo desenho. Os benefícios da globalização para uma economia como a brasileira ainda são uma questão em aberto entre a opi- nião pública e vão precisar passar por um debate amplo para que se chegue a um consenso maior. Infelizmente, nas eleições de outubro próximo, os adversários de umamaior abertura de nossa economia ao comércio interna- cional sãomaioria. Revista da ESPM — Como o senhor mesmo já disse, o protecionismo do governo Trump serve de munição para a corrente ideológica antiglobalização em nosso país. O senhor também é pessimista em relação a esta batalha no campo das ideias? Ou um discurso bem articulado a favor da abertura econômi- ca e da integração às cadeias globais de produção pode triunfar? Mendonça de Barros — As ideias de Trump fortalecem o lado que se opõe à globalização. Mas, como a esquerda não vai usar a posição de Trump nesta questão, sua posição deve ser ignora- da no debate das eleições. Vai ter de se fazer um redesenho da fórmula como a economia tem sido globalizada. Esse debate começou há pouco e está na fase inicial, de análise das origens desse fenômeno

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx