Revista da ESPM
JULHO/AGOSTO/SETEMBRODE 2018| REVISTADAESPM 75 E ntreos anos de 2014 e 2017, oBrasil atravessou uma das mais longas e profundas recessões de sua história: o Produto Interno Bruto (PIB) per capita acumulou uma queda de 9%. Odado é preocupante, mas numa perspectiva histórica trata-se de fenômeno temporário. Mais preocupante é a tendência de longo prazo: o país encontra-se há muito tempo numa trajetória de lento crescimento. De 1980 até o ano passado, a taxa de crescimento do PIB per capita foi de apenas 0,6% ao ano. É verdade que a primeira parte desse período foi de regressão. Na longa década perdida, de 1980 a 1992, o PIB per capita encolheu. Mas, mesmo entre 1992 e 2017, a taxamédia de crescimento desse indicador foi de ape- nas 1,2% ao ano, insuficiente para alcançar o nível atual de Portugal em 45 anos. São múltiplas as causas desse lento crescimento. Em primeiro lugar está a baixa taxa de investimento em capital fixo, especialmente em infraestrutura. O segundo ponto é a alta e complexa carga tributária, a qual é usada pelo governo não para investir, mas para financiar gastos correntes. Em terceiro lugar, amá qua- lidade da educação. O ensino médio é particularmente desastroso, como demonstram os resultados dos tes- tes PISA, em que nossos adolescentes aparecem no final da fila do aprendizado em nível internacional. Há consenso entre os especialistas sobre esses fatores. Menos atenção até recentemente foi dada à baixíssima participação do comércio exterior no PIB como causa do lento crescimento da economia brasileira. Após a Segunda Guerra, poucos países consegui- ram escapar da chamada armadilha da renda média e entraram para o rol dos países desenvolvidos — mas todos eles o fizeram com base numa participa- ção crescente no comércio internacional. Coreia do Sul, Hong Kong, Israel, Cingapura e Taiwan fizeram a transição com base em exportações industriais; Espanha, Grécia, Irlanda e Portugal o fizeram com base na exportação de serviços, inclusive mão de obra; Austrália, Nova Zelândia e Noruega o fizeram com base na exportação de recursos naturais. A natureza dos produtos exportados diferiu; a carac- terística unificadora desses países é se terem valido das trocas internacionais para elevar seu patamar de produtividade. O Brasil é grande e diversificado o suficiente para não ter de escolher entre grandes setores de atividade, como foi o caso desses países. Pode tê-los todos — agricultura, mineração, indústria e serviços —, desde que integrados ao comércio inter- nacional, o que atualmente ocorre apenas em parte com a agricultura e a mineração. A necessidade de participar ativamente do comér- cio internacional deriva do fato de os ganhos de pro- dutividade dependerem da existência de empresas com acesso à tecnologia de última geração, com ampla escala de produção para reduzir os custos unitários, que se especializem em bens e serviços em que sejam mais competitivas nas cadeias mundiais de valor e que atuem num regime de concorrência indutor da inova- ção e da seleção empresarial. AseconomiasmaioresqueoBrasil são tambémgrandes exportadoras: Estados Unidos, China, Alemanha, Japão, França e ReinoUnido. Já o Brasil, que tema sétimamaior economia domundo, é apenas o 25ºmaior exportador. O PIB brasileiro representa 3% do PIB mundial, mas suas exportações alcançamapenas 1,1%domercadomundial. Umgigantinho em termos de PIB, o Brasil é umanão em termos de exportações. O que se constata nas exportações se repete nas importações. A parcela das importações no PIB bra- sileiro é de apenas 14%. Exceto por Nigéria e Sudão, esse é o menor valor entre todos os 160 países para os quais o Banco Mundial tem dados. Trata-se de uma situação paradoxal, porque o Brasil é o sexto destino mais preferido para o investimento direto estrangeiro no mundo. O país tem uma conta de capital aberta, mas uma conta de comércio fechada. Esta é uma receita pronta para o que os economistas chamam de crescimento empobrecedor. As multina- cionais e seus empregados prosperam ao explorar o mercado interno protegido, mas o resto do país empo- brece ao ter seus recursos aplicados na substituição ineficiente de importações em lugar de se dedicarem à diversificação das exportações. Até 2016, as ações do governo brasileiro vinham na contramão do desafio de aumentar a produtividade do
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