Revista da ESPM
JULHO/AGOSTO/SETEMBRODE 2018| REVISTADAESPM 93 contasdopaísoudesistirda ideiade terumtetodegastos. Se a opção for pela segunda alternativa, nossa trajetó- ria de endividamento continuará crescendo indefinida- mente. Sim, sempre é possível aumentar a carga tributá- ria para compensar a elevação dos gastos. Mas teremos de suportar as consequências dessamedida, como o fato deque todo impostobarraocrescimento, o investimento e o consumo. Umestudo do BancoMundial mostra que, no Brasil, o empresário precisa do equivalente a 2,4mil homens/hora por ano paramanter todos os seus impos- tos emdia, enquanto que amédia da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é de 250 pessoas. Ou seja, precisamos de quase dez vezes mais gente dedicada à tarefa de pagar imposto no Brasil do que namédia daOCDE. Nestes 25 anos de estabiliza- ção da economia nacional, já deveríamos ter aprendido que o aumento de impostos não é suficiente para acabar como problema das finanças públicas no Brasil, porque o gasto sempre serámaior do que o volume arrecadado. Aampliaçãodesseendividamentodogovernonoslevará aumpontonoqual aúnica solução será abrirmãodocon- trole inflacionário e voltar à dinâmica da inflação, que não será baixa nemcomportada, comonos últimos anos. Nossas energias deveriamestar focadas emresolver esse problema — que não é o principal do país, mas é urgente. A questão é: como desviar o país do muro fiscal que está crescendoeempurrando todosparaabeiradoprecipício? No livro Por que as nações fracassam (EditoraCampus/ Elsevier, 2012), o economista turco Daron Acemoglu e o historiador econômico James Robinson afirmamque as nações que deramcerto são as que possueminstituições políticas e econômicas inclusivas, privilegiando a com- petição e a capacidade de inovar emdetrimento do lobby político, daburocraciaedos impostos elevados. Aanálise demonstra que a democracia não é condição suficiente, mas necessária, para que esse crescimento ocorra. Por outro lado, nações que baseiam a aquisição de riqueza parasitando o sistema podem até criar uma classe de milionários e crescer por algum tempo, mas nada dura- douro. Basta comparar no que resultou o processo de exploração do petróleo na Venezuela versus a prática de extração desse recursonatural adotada naNoruega, que de algumamaneira conseguiu isolar o fator “jogo de rou- ba-montes” e cresceu como nação! Infelizmente, nós, brasileiros, optamos pelo jogo de cartas marcadas ao construir uma sociedade capaz de parasitar a própria riqueza, com processos cada vez mais complexos, lobby de empresários junto ao governo e impostos cada vezmais elevados. Aqui, no Brasil, não seganhadinheirocomoempreendedor.Mas simjogando rouba-monte. Osegredo está emredistribuir certo as car- tas de ummonte que não cresce, apenas muda demão! Omau desempenho da produtividade brasileira está totalmente ligado a esse eterno jogo de rouba-monte. Curiosamente, o fruto é baixo, fácil de colher. Sabemos o que deve ser feito. Já está tudo mapeado. Não preci- samos mais implantar algo grande, como foi o Plano Real, porque agora temos tudo codificado. Para resolver a questão da previdência, fale como Fabio Giambiagi, o Marcos Mendes e o Paulo Tafner. Para fazer a reforma tributária, converse comBernard Appy. O problema do Brasil não é técnico. É político! A sociedade brasileira está presa e dividida em gru- pos de interesse que, por razões distintas, nãopermitem o avanço das reformas. Para quebrar essas amarras, o próximo presidente terá de criar mecanismos capazes de traduzir a vontade popular e não apenas o desejo de pequenos grupos de interesse bem organizados. O pri- meiro passo para isso é reconquistar a confiança da população, que decidiu se divorciar do mundo político por não se sentir representada. Alexandre Schwartsman Doutor em economia pela Universidade da Califórnia e ex-diretor de assuntos internacionais do Banco Central do Brasil NoBrasil, o empresário precisa de 2,4mil homens/hora por ano paramanter seus impostos emdia, enquanto a médiamundial é de 250 pessoas rocketclips , inc . / shutterstock . com
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