Revista da ESPM
JULHO/AGOSTO/SETEMBRODE 2018| REVISTADAESPM 95 alf ribeiro / shutterstock . com A decisão era estranha. Por unanimidade, oSupremoTribunal Federal (STF) garan- tiu em21/6/2018 o direito de os brasilei- ros voltarema ter sátira política. Na ver- dade, o STF apenas considerou “inconstitucional” a lei eleitoral que proibia críticas e brincadeiras, no rádio e na TV, sobre candidatos e partidos. Há oito anos este processo se arrastava no STF. O grave é que ninguém reclamava da falta da sátira política. Um experiente sociólogo da Universidade de São Paulo (USP), José de Souza Martins, notou que essa dispensa do humor sobre homens públicos — fino ou grosseiro, tanto faz — era o sinal mais grave da pro- fundidade da crise política. O brasileiro que brinca com tudo não sentia necessidade de rir de quem faz leis, ou o governa. Emoutras palavras, a atual gera- ção de políticos se tornou tão distante que sequer merece, do povo, a “misericórdia do riso”. De fato, não pode haver indíciomais forte da des- conexão entre Estado e sociedade no Brasil do que a dispensa do direito de rir de quem é ou quer ser poder. E, como em qualquer relação humana, sem dúvida, a indiferença é o pior dos castigos. É pos- sível dizer que há, em substituição, o meme politi- zado na internet. Não é a mesma coisa. O meme é o sarcasmo partidarizado, de todos os lados, para consumo individual. Ocorre quase sempre entre iniciados e interessados. É bem diferente do riso Em2013, o aumento da passagemde ônibus foi a gota d'água para os brasileiros invadiremruas e avenidas de todo o país para protestar contra os políticos corruptos
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