Revista da ESPM - OUT-NOV-DEZ_2018

ENTREVISTA | ANA AMÉLIA CAMARANO REVISTA DA ESPM | OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRODE 2018 12 Revista da ESPM — De acordo com o Ipea, o número de pessoas com mais de 60 anos aumentou nove vezes em seis décadas no Brasil. É possível enumerar as diferenças mais marcantes que a nos- sa pirâmide social registrou na ltima década por conta dessa mudança? Ana Amélia Camarano — Todos querem envelhecer sem ficar velhos. Mas o único remédio contra a velhi- ce é morrer cedo! O idoso de 2050 já nasceu, justamente no período em que a fecundidade começou a cair e a mortalidade teve uma redução acelerada. O novo perfil da popula- ção brasileira é o resultado dessa fórmula que combina aumento na expectativa de vida aliado ao fato de que as pessoas não estão morrendo mais! Basta andar pelas ruas do Rio de Janeiro para perceber que a popu- lação brasileira está envelhecendo. Revista da ESPM — E qual é o perfil dessa nova sociedade brasileira que, segundo o IBGE, é composta por mais de 30 milhões de idosos? Ana Amélia — O que notamos foi o crescimento da família composta por três gerações vivendo em uma mesma casa. Esta não era uma carac- terística da sociedade brasileira, que costumava ser formada por membros de duas gerações. Tinha até um dita- do famoso no Brasil: “Quem casa quer casa”. Hoje, os jovens demoram tanto para deixar a casa dos pais, que são chamados de “geração canguru”, por- que não saem da bolsa. Outra geração que ganhou importância nos últimos tempos é a “geração ioiô”, composta por aqueles filhos que casam, saem de casa para constituir uma nova família, mas acabamretornando para a casa dos pais quando se separam. Esse movimento faz com que cada vez mais tenhamos três gerações distintas convivendo nummesmo lar. Revista da ESPM — Considerando que, em 2039, o n mero de idosos com mais de 65 anos superará o de crianças de até 14 anos no Brasil, o que vai acon- tecer quando tivermos mais idosos do que crianças no país? Ana Amélia —A questão é a seguinte: sabemos que os jovens são elementos antecipadores de mudança e inova- ção social. Será que teremos uma sociedade congelada? Não sabemos ainda. Mas sabemos que a redução significativa do número de crianças e jovens gera um impacto imediato na força de trabalho, que tende a diminuir e a envelhecer. Já estamos vivendo essa realidade com o retor- no — ainda tímido — dos profissionais acima de 60 anos para o mercado de trabalho. Em breve, esse movimento deixará de ser uma tendência para tomar corpo em todo o país. Revista da ESPM — Diante dessa nova configuração de família, se fosse atuali- zar o livro Os Novos Idosos Brasileiros: Muito Além dos 60? , que tipo de mu- dança faria ao definir esse p blico? Ana Amélia — Eu incluiria a ideia dos novos idosos. Brinco que a sociedade brasileira não está envelhecendo, e sim rejuvenescendo. Os 70 anos de agora equivalem aos 50 anos de duas décadas atrás. Embora a política con- tinue definindo o idoso como a pessoa com 60 anos ou mais, estamos enve- lhecendo mais tarde. Com o aumento da expectativa de vida da população, o que ficou velho foi o conceito de idoso 60+! Hoje é possível ver muitas pessoas commais de 65 anos que não parecem idosas. Isso faz parte de uma mudança que começa a ocorrer em todo o mundo: o envelhecimento da geração baby boomer . Os baby boomers estão se tornando elderly boomers . Revista da ESPM —Do ponto de vista da iniciativa privada, qual é a grande questão gerada a partir do envelheci- mento da população? Ana Amélia — A geração que mais influenciou o mercado de consumo e revolucionou a sociedade com o feminismo e o uso da pílula está en- velhecendo. Mas continuará ditando tendências também nesta fase da vida. Isso porque essa é a mulher da geração Rolling Stones, que colocou o filho na creche e que, por isso, não vai esperar ser cuidada por ele no futuro. Da mesma forma que ela buscou al- ternativas de cuidados não familiares para seus filhos, vai demandar cuida- dos não familiares para ela na velhi- ce. E aqui temos um enorme potencial de mercado surgindo. Seguramente, a geração que liderou a revolução sexual não vai abrir mão de sua sexualida- de na velhice. Os baby boomers vão A redução significativa do número de crianças e jovens gera um impacto imediato na força de trabalho, que tende a diminuir e a envelhecer. Já estamos vivendo esta nova realidade

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