Revista da ESPM - OUT-NOV-DEZ_2018

ENTREVISTA | ANA AMÉLIA CAMARANO REVISTA DA ESPM | OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRODE 2018 14 idoso de amanhã ter condições e co- nhecimento para vivermais emelhor. A questão fundamental é garantir que as crianças e os jovens de hoje en- velheçam bem em termos de saúde, educação, trabalho e renda. Revista da ESPM — Ainda em rela- ção ao poder aquisitivo do idoso, nota-se certa divergência no caso brasileiro, pois sabemos que existe um p blico acima de 60 anos com uma renda per capita superior aos demais segmentos da po- pulação. Como se explica isso? Ana Amélia — No Brasil, um número cada vez maior de idosos assume o papel de chefe de família. Esse com- portamento tem relação direta com o aumento da população idosa e com o fator da previdência. A expansão da cobertura da seguridade social per- mite que o idoso tenha uma renda vi- talícia, ainda que baixa. Ele sabe que todomês o dinheiro vai cair na conta, diferentemente do jovem que hoje tem renda, mas amanhã poderá estar desempregado. Na atual situação da economia brasileira, o idoso tem uma vida financeira bem mais estável do que o jovem. É como apontou uma re- portagem publicada na revista IstoÉ , emmarço de 2014, que a nova geração de cinquentões está protagonizando uma das maiores mudanças compor- tamentais do nosso tempo. Os baby boomers , que têm entre 50 e 69 anos, possuem renda 12% acima da média brasileira e encaram a terceira idade como o início de uma nova vida, onde tudo é possível: mudar de profissão, casar novamente, cursar uma nova faculdade. Estamos vendo isso acon- tecer em todos os grandes centros. Revista da ESPM — E é essa renda maior em relação ao ganho dos mais jovens que tem propiciado aos idosos maior capacidade de oferecer suporte familiar. Diante desse panorama, de que forma os consumidores seniores estão gastando o seu dinheiro hoje no Brasil? Ana Amélia — De maneira geral, eles têm controle de seus gastos e estão divididos em dois grandes grupos de consumidores: idosos ativos e idosos frágeis. O primeiro grupo está ativo e tem renda suficiente para viajar, con- sumir cultura e entretenimento, fre- quentar a academia e fazer atividades físicas como forma de prevenir o sur- gimento de doenças e garantir uma velhice saudável. O outro grande gru- po é composto pelos idosos frágeis, que precisam de cuidador, fralda, me- dicamento, fisioterapia, tratamentos especializados... De maneira geral, tanto o mercado quanto a academia costumam considerar a populaço idosa como sendo um segmento ho- mogeneo, com necessidades e expe- riencias comuns. Na prática, uma das características mais marcantes deste segmento é a heterogeneidade, que ultrapassa a questão da composiço etaria, dadas as diferentes trajetorias e experiências de vida de cada um. Revista da ESPM — Como lidar com essa pluralidade de experiências na hora de definir as estratégias mercadológicas? Ana Amélia — O mercado está cada vez mais atento à questão das dife- renças e divide suas estratégias em dois perfis distintos: idosos ativos e idosos frágeis. A Droga Raia, por exemplo, foca suas ações no grupo de idosos frágeis ao investir na ampliação da oferta de serviços domiciliares, como aplicação de injeção. Já grandes empresas, como Natura e Avon, ofere- cem produtos para manter a cultura do corpo e desacelerar o processo de envelhecimento. Por outro lado, temos a Home Angels, uma rede de franquias especializada em cuidar de idosos, que já conta com 167 unidades no país e um faturamento superior a R$ 97 milhões por ano, de acordo com uma reportagem publicada em abril de 2017, na revista Exame . E, com o desenvolvimento da tecnologia, tere- mos cada vezmais produtos e serviços destinados ao consumidor sênior, desde cadeiras de rodas inteligentes até robôs cuidadores de pessoas, pas- sando por bengala com GPS, medidor automáticode pressão, colares, anéis e pulseiras que funcionamcomo alarme comacionamento automático emcaso de queda ou mal-estar do idoso. Tem até o caso de um jovem americano que desenvolveu uma colher que vibra para ajudar aqueles que sofremdemal de Parkinson. Este é um mercado em franca expansãonomundo inteiro. Revista da ESPM — O crescimento da expectativa de vida da população brasileira coloca uma questao impor- tante para as politicas públicas: em que condiçes de saúde e renda viverao os longevos brasileiros? Como estamos vivendomais e pormais tempo, a pergunta é: quemvai pagar a conta da previdência? Ou ainda cuidar dos idosos frágeis e acamados? Tudo precisará ser redimensionado

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