Revista da ESPM - OUT-NOV-DEZ_2018
OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRODE 2018| REVISTADAESPM 15 Ana Amélia — De acordo com o IBGE, a expectativa de vida do bra- sileiro é de 76 anos, o que representa um aumento de 22 anos em relação ao índice registrado nos anos de 1960, quando a média nacional era de 54 anos. Hoje, várias empresas do Vale do Silício estão apostando na conquista da imortalidade. Tanto que criaram a Academia da Longe- vidade e contrataram vários ganha- dores de prêmios Nobel para buscar a “cura” do envelhecimento. Mas temos de considerar que o motorista de ônibus vai envelhecer comple- tamente diferente de mim, porque é a trajetória de vida da pessoa que determina se ela chegará ou não com saúde aos 80 anos. Revista da ESPM — Emque condições de sa de e renda viveremos em 2060, quando 25,5% da população deverá ter mais de 65 anos? Ana Amélia — Viver muito não é no- vidade na história da humanidade. Matusalém (o homem mais longevo do mundo, segundo a Bíblia) teria vivido quase mil anos. É por isso que não gosto da expressão longe- vidade — muito utilizada pela mídia para definir o momento atual da nossa sociedade. Tem gente que pre- fere chegar aos 100 anos acamado do que morrer. Em média, o brasi- leiro está envelhecendo bem, mas ainda tem muita gente que enfrenta a velhice como um grande proble- ma, porque hoje está difícil morrer! Muitas doenças letais passaram a ser crônicas e a tecnologia ampliou e facilitou o tratamento de proble- mas antes considerados complexos. Hoje, cerca de 15% dos idosos não têm condições de ir ao banheiro, comer ou tomar banho sozinhos, sendo que essa proporção aumenta junto com a ampliação da expectati- va de vida da população. Revista da ESPM — Para concluir, na sua opinião, a maior longevidade dos brasileiros será um fator positivo ou ne- gativo para o desenvolvimento do país? Ana Amélia — A maioria dos países em desenvolvimento vive o mesmo cenário do Brasil. Essa é uma tendên- cia mundial. O século 21 é o século do envelhecimento. Mudancas na estrutura etaria sao semelhantes as mudancas climaticas: sempre acon- teceram, mas sao suas causas, sua aceleraço e sua direço que preocu- pam tanto os cientistas quanto os for- muladores de politicas. Antigamente diziam que os velhos eram sábios, primeiro porque a difusão do conhe- cimento acontecia pela história oral e só os velhos detinhamessa história. Eles eram poucos, e somente os mais fortes sobreviviam. Logo, a velhice não existia como categoria social. Na década de 1940, as crianças morriam de diarreia e amortalidade infantil no Brasil era de 154 por mil. Hoje, a taxa de mortalidade infantil foi reduzida para 17 por mil. Isso significa que a cada 100 crianças nacidas vivas, 53 vão completar 80 anos de idade. Na década de 1980, esse índice era de 28. E isso é o que chamo de democracia da sobrevivência! O menino que antes morria de diarreia não morre mais, e isso é positivo! Mas como será que esse menino irá chegar aos 80 anos? Como será que está sobre- vivendo aquele idoso que sofreu um AVC e voltou para casa sem receber o tratamento médico adequado? No longo prazo, a solução para a questão do envelhecimento é o aumento da fecundidade. Mas, agora, a única for- ma de enfrentar o envelhecimento da população é investir no tripé saúde, educação e segurança. Até porque os idosos não vivem isolados e o seu bem-estar depende do bem-estar de toda a sociedade! tommaso lizzul / shutterstock . com A moda, assim como os demais bens de consumo, precisará se reinventar e unir beleza, inovação, design e novas funcionalidades para atender os desejos dos novos elderly boomers
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