Revista da ESPM - OUT-NOV-DEZ_2018
TECNOLOGIA REVISTA DA ESPM | OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRODE 2018 32 Como consequência, um estudo global da Nielsen, bati- zado de Afinal, o que querem os idosos? , aponta que 51% dos consumidores commais de 50 anos não se sentem representados pela publicidade, enquanto a pesquisa “O consumodamaturidade”, feita pelaMindMiners empar- ceria comaHype 60+, aponta que 57% dos consumidores nessa faixa etária dizemfaltar produtos e serviços volta- dos para suas necessidades, destacando-se a deficiência na oferta de cursos livres, alimentos, vestuário e servi- ços de turismo. É nesse descompasso que se consolida a urgência de se abandonarem velhos clichês sobre o que osmaisvelhosquereme, principalmente, sobreoqueeles deveriamquerer. Éno lugardessascertezasepreconceitos queapesquisadeve se situar, produzindoconhecimentos genuínos sobre os hábitos, desejos e necessidades dessa parceladapopulaçãoqueéaquemaiscrescenoBrasil eno mundo. De acordo comaOrganizaçãoMundial da Saúde (OMS), onúmerodepessoas comidade superior a60anos chegará a 2 bilhões até 2050, o que deverá representar um quinto da população mundial, conforme publicado na página virtual do Jornal da USP , no dia 7 de junho de 2018. Anota detalha ainda que, segundodados doMinis- térioda Saúde, em2016 oBrasil já possuía a quintamaior população idosa domundo. Eprojeções indicamque, em 2030, o número de idosos irá ultrapassar o total de crian- ças entre zero e 14 anos no país. Desdejaneirodesteano,realizoumapesquisadecampo emSão Paulo, observando e participando do cotidiano de pessoas commais de 50 anos. Apesquisa faz parte demeu doutoramentonoProgramadePós-GraduaçãoemPráticasdo ConsumonaESPMeestáconectadaaoestudoglobalSmar- tphone,SmartAgeing,sediadonaUniversityCollegeLondon, comoobjetivodeestudarcomooconsumodesmartphones impactanagestãodasaúdeenoprojetodeenvelhecimento dos indivíduos dessa população. A partir dessa vivência, temsido possível mapear as disparidades entre os discur- sossobreaterceiraidadeesuaspráticasefetivas,principal- mentenoque se refereaoconsumode tecnologias eusode smartphones.Sãomeusachadosqualitativoseparciaisem campoquecompartilharei neste textona tentativadecon- tribuir para a produção do tipo de conhecimento capaz de reconhecer aposiçãoprotagonistaqueosmaisvelhosocu- pamcomosujeitos, consumidoresecidadãos. O primeiro smartphone a gente nunca esquece! Desdemarçodeste ano, douaulasdeWhatsAppparapes- soascommaisde60anoscomovoluntária,emumdosinú- meros cursos oferecidos à terceira idade na paróquia que acompanho,nobairrodaVilaMariana.Seguindoatendên- ciaidentificadaem2017pela GlobalMobileConsumerSurvey , realizadapelaDelloitte, queapontouque31%dosbrasilei- rosdoamseuscelularesparafamiliaresouamigosquando trocamodispositivo, amaioriados smartphonesdemeus alunos foramdoadosporfilhosounetos.Dessa forma, 90% deles já chegamao curso comoWhatsApp instalado. São usuáriosbásicos eessencialmenteenviammensagensde textoeimagens.Elesprocuramocursoporquenãoquerem incomodar os filhos que trabalhamou não têmpaciência para ensiná-los. “Só vou explicar uma vez, vê se aprende, hein?” é o que Amélia, 62 anos, ouve da filha quando tem umadúvida. Jáosnetos, elesatéresolvemoproblema,mas não ensinamos avós como fazê-lo. “Eles pegamo celular, clicam aqui e ali e devolvem com o problema resolvido, mas não sabem ensinar como é que a gente faz”, explica Lorena, de 70 anos. Eles também chegam ao curso combaixa autoestima, interiorizando o discurso de que “tecnologia não é coisa para velho”. Eles se sentem inseguros principalmente por três razões: medo de danificar o aparelho; medo de apagar alguma informação importante; oumedo de serem taxa- dossobrealgumserviçosemseuconsentimento.Essafalta de confiança foi identificada pela pesquisa Tech Adoption Climbs Among Older Adults , realizada pelo Pew Research Centerentreosamericanos,comoaprincipalbarreirapara aadoçãodenovastecnologiaspelosidosos.Olevantamento apontaqueumterçodosentrevistadosdizsesentirpoucoou nadaconfianteparausardispositivoseletrônicos,incluindo smartphones, enquanto três quartos deles dizemprecisar de ajuda para configurar e usar umnovo dispositivo pela primeira vez. Essa falta de confiança é reflexo do próprio estigma da velhice, como exemplifica umdemeus alunos de71anos:“Essaéadiferençaentreosmaisnovoseosmais velhos.Seosmaisnovosfalamalgumacoisaerrada,elesriem desimesmos.Mas,comosmaisvelhos,aspessoasnãosão tãotolerantes”.Porcontadisso,eleconcluiu:muitosdeseus Umestudo feito pelaMindMiner e pelaHype 60+ aponta que 57%dos idosos dizem faltar produtos e serviços voltados para suas necessidades
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