Revista da ESPM - OUT-NOV-DEZ_2018
OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRODE 2018| REVISTADAESPM 35 OLLYY/ SHUTTERSTOCK.COM cursos para a terceira idade é vasta e meus informantes não dispensam uma oportunidade. Geralmente, eles se inscrevememmaisdeumcurso. Por contadisso,Wanda, 50anos, dizqueédifícil encontrar ospais emcasaequeo sobrinhobrincaqueeles são “osaposentadosmaisocupa- dosqueeleconhece”.Euencontroessamesmadificuldade quando tento agendar umhorário para as entrevistas em profundidadecomeles.Yasmin,66anos,contaquequando osex-colegasmédicosperguntamseelanãoestámais tra- balhando, ela diz “não tenho tempo, agora meu tempo é paramim”;equandosuafilhaasolicitaparaajudá-lacoma neta,elatambémpõelimites:“Agoratenhocompromisso”. Odesejoporaprendertambémdáformaanovostrabalhos, que resultamemumaguinadaprofissional,mesmoapósa aposentadoria. Por exemplo, Beatriz, 55 anos, trabalhou a vida toda nomercado financeiro e, depois de aposentada, investiunaformaçãodereikiedemeditação,atuandoatécom cursosvoltadosparaomeiocorporativo,queconheceutão bem:“Eujáestivenaquelelugar,euconheçoaquelador”.Ela tambéméresponsávelpeladivulgaçãodoscursosnoFace- bookecaptaçãodasinscrições,alémdeabastecertambémo Instagramdonovonegóciodomarido.JáMariana,59anos, se aposentou como pedagoga, mas se sentiu “angustiada” porque “com 56 anos, você não deve pensar que é idoso, assim, inativo... eu ainda tenho umgrande poder de traba- lho”.Nosanos seguintes, elasequalificouparaatuar como guiapessoaldeviagens,devidamentecredenciada,alémde sededicaraumnovocursoparaocredenciamentointerna- cional.Alémdee-mailetelefone,partedosseusatendimen- tosé feitadiretamentepeloWhatsApp. Ainda emrelação aopotencial produtivodos idosos, a pesquisa Envelhecimento da força de trabalho noBrasil , rea- lizadapelaPwCcomempregadores, em2013, apontouque 63% das empresas entrevistadas acreditam que os mais velhos sãoacomodadospor causadaproximidadedaapo- sentadoria.Masa realidadedemonstraqueelasnãopode- riamestarmaisenganadas.Emcampo,minhaobservação é que osmais velhos queremsemanter produtivos: parte deles trabalhaparacomplementar aaposentadoria, parte seengajaematividadesdevoluntariadoeparteempreende, na tentativade solucionar osproblemas que elespróprios enfrentamnesta faixaetária. Por exemplo, VeroniqueFor- rat, 61anos, éumadas fundadorasda startupMorar.com. vc, quevemresponder ànecessidadedeumoutromodelo demoradia que atenda aosmais velhos que queremviver comautonomia, nosmoldesdaeconomiacompartilhada, comgrandesganhosemconvivênciaesociabilidade,além de otimizar os gastos coma casa ou de transformá-la efe- tivamenteemuma fontede rendacomplementar. Aplata- forma atua como match-making , promovendo o encontro de pessoas de todas as idades que desejem compartilhar umamoradia em cohousing ou coliving . JáRicardoPessoa, 55anos, divide seus esforços emduas frentes: odesenvol- vimento do site de relacionamento paramaduros KdVc e aconsolidaçãodoprogramaSaber paraCuidar, queadmi- nistragruposdeWhatsApp para cuidadores e pacientes, comcomunidades voltadasparaadiscussãodosdesafios da diabetes e doAlzheimer. Os dois casos ilustramcomo osmais velhos têmusado a tecnologia para responder às suas próprias demandas comoconsumidores e cidadãos. Um indicativo de que eles, alémde smarts , tambémpre- servam a mais importante das autonomias, que é a de saber o que querem—mesmo que isso sejamais do que o mercado tema oferecer. Marília Duque Publicitária e doutoranda em práticas de consumo pela ESPM, pesquisadora do projeto global Smartphone, Smart Ageing, coordenado pela University College London
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