Revista da ESPM - OUT-NOV-DEZ_2018
OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRODE 2018| REVISTADAESPM 39 confortável, na qual o faxineiro ou a moça que ser ve o ca fé no escritório tem sa lá rio próx imo ao sa l á r io do d i ret or. Lá , não existe tanta desigualdade quanto no Brasil, onde um golfo separa esses profissiona is. O segundo ponto que faz a Espanha “envelhe- cer” com saúde é o fato de o país abraçar um estado de bem-estar socia l e investir na construção de uma rede de centros de saúde para oferecer atenção primária em medicina de família. Agora, pessoas com doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, são t ratadas na própr ia comun ida- de por equ ipes especia l izadas. I sso permite cont i nu idade no tratamento, a lém de reduzir as idas dessas pessoas ao hospital. O sistema está funcionando tão bem que o país vizinho, Portugal, decidiu implantá-lo. Revista da ESPM — É por essa razão que os Estados Unidos não devem servir de benchmark quando o assunto é o envelhecimento ativo da população? Kalache — Sim. Hoje, os Estados Unidos figuram na 43ª posição do ranking de expectativa de vida, apesa r de gasta rem com saúde mais que o dobro que a Europa. Atualmente, o governo america- no gasta 18% do PIB com saúde, enqua nt o os pa í ses eu ropeus investem entre 8% e 11%, no má- ximo. Um estudo realizado pelo Institute for Health Metrics and Eva luation, da Universidade de Washington, aponta que em 2040 os Estados Unidos irão passar de 43º para 64º lugar nesse ranking, com uma esperança de vida esti- mada em 79,8 anos. Já a Espanha, que hoje ocupa a quarta posição, deverá at ingir o índice de 85,5 anos e assim desbancar o Japão, que atualmente ocupa o primeiro lugar, com uma esperança de vida de 83,7 anos. A pergunta é: por que os Estados Unidos investem muito, mas não conseguem viver tanto quanto a maioria dos euro- peus? Há duas respostas para este problema: os Estados Unidos não têm a mesma igua ldade socia l que os países europeus e ainda investem mal uma enorme quan- tidade de dinheiro, sem oferecer cober tura para todos. Assim, o país perpetua um sistema de ins- titucionalização de hospitais, em vez de investir em uma rede de centros de saúde da família. Revista da ESPM — Mas esse tipo de atendimento diferenciado aos idosos não costuma estar presente nas famosas cohousings , que agora começam a fazer sucesso por aqui? K a l a c h e — Es s e conce i t o de cohousing não funciona porque os americanos são muito individu- alistas. Lá, cada um mora no seu pedaço, e as cohousings são, na verdade, condomínios privados formados por idosos que podem compra r esse t ipo de ca sa na Flórida, Califórnia ou no Arizo- na. Isso é uma grande besteira, marcos casiano / shutterstock . com OBrasil está envelhecendo pormeio de uma combinação tóxica: enorme desigualdade social; crise econômica; sistema de saúde esfacelado; e falta de atenção dos políticos ao envelhecimento da população
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